Uma hora antes já lá havia muita gente: falando, distribuindo propaganda, marcando presença, fazendo cartazes. Vi o Bruno Dias e disse-lhe que estava muito contente por ele ter ido. A praça estava ser pequena e assim a manifestação arrancou 20 minutos antes do tempo. No Movimento Sem emprego estávamos um pouco às aranhas pois ainda não tinha chegado a faixa, não tínhamos megafones... mas tínhamos o mais importante: gente disposta a tudo. Onde nos colocamos? A resposta foi óbvia. Junto aos que connosco marcharam na manifestação por nós promovida a 30 de Junho: entre o 15-O, que ia à frente, e o MAS, que ia atrás.
Começámos a andar, mas a faixa não chegava. Dois quarteirões mais à frente, chega uma mochila que se abre rapidamente. Já tínhamos faixa. Mas não tínhamos megafones. Porra! Um movimento sem megafone não é movimento. Continue-se com o que temos e use-se o que temos. Inicialmente pensámos colocar-nos ao lado do 15-O, porque eles pelo menos tinham megafones. Mas entretanto, melhor damos visibilidade à nossa faixa, deixemos que os de frente se afastem um pouco: "Espera! Pára! Estica!". Por vezes, vale mais usar bem o pouco que se tem do que confiar nas ferramentas tradicionais. As pessoas começaram a filmar-nos e a tirar-nos fotografias. Vinham ter connosco para nos pedirem folhetos, que acabaram num instante. Começámos a ver que em vez de filmarem e fotografarem o 15-O e o MAS, procuravam-nos a nós. No Saldanha, na estátua, quem ia à frente, seguiu pela esquerda. Como pretendíamos ficar ao lado do 15-O, fomos pela direita... e vimos que não havia ninguém à nossa frente. Do nosso lado, tínhamos a Av. da República completamente vazia. Olhámos para trás... e vemos que o povo atrás de nós nos segue. Seguimos em frente, pois éramos, do nosso lado, o topo da manifestação. Assim seguimos até ao Campo Pequeno. Virámos e fomos para a Praça de Espanha. Fomos andando até podermos e parámos. Ouvimos o orador final a apelar a que se formassem grupos de pessoas a nível local para lutar contra a austeridade. Ficámos felizes porque no dia anterior tínhamos apelado a que se formassem comités locais. Tentámos pedir a palavra mas foi-nos dito que só os organizadores é que poderiam falar, porque assim tinham decidido os organizadores. Nada mais democrático! Terminaram os discursos, continuaram com música por alguns minutos, e a organização deu por terminada a sessão.
No que se tinha falado no Facebook e noutros meios, havia a sugestão de após a manifestação rumar ao Parlamento. O MAS, usando megafones, apelou que assim fosse e partiu... sem muita gente atrás. Alguém do Regueirão dos Anjos usou o cartaz da JSD "Todos temos que fazer a nossa parte" e o transformou em "Todos temos que fazer a nossa arte. Todos a S.Bento!!!". Demos uma volta para ouvir o que diziam as pessoas. E deu-se um momento mágico, algo que, pessoalmente só tinha lido sobre revoluções em outras paragens. Ouvia-se o Povo dizer "Estamos aqui meio milhão e não fazemos nada com isto? Então e agora vamos para casa? Que estupidez, agora vamo-nos embora?". Verificava-se que a massa estava mais radicalizada que os organizadores, que os líderes. Rapidamente desfraldámos a nossa faixa e começámos a andar com palavras de ordem... e o Povo veio atrás de nós! Começámos a cantar Grândola e mais gente se nos juntou. Víamos os que estavam parados à nossa frente, em frente ao Corte Inglês, começar a andar e a cantar! Descendo a António Augusto Aguiar, ainda haviam carros a circular. Observa-se que quem vai nos carros toma uma de duas atitudes: ou buzina connosco as palavras de ordem com os punhos levantados, ou então fecham os vidros e estacionam. Curiosamente, os carros de alta cilindrada eram os mais cautelosos. Davam a sensação de estar com algum receio.
Mais abaixo, um polícia puxa um jovem sem razão aparente para dentro de um pátio. Dezenas de pessoas correm furiosas atrás do polícia que desapareceu. O jovem não sei que aconteceu com ele, se foi preso ou se continuou na manifestação.
Pouco antes da Fontes Pereira de Melo, onde vendem lamborghinis, o vidro foi estilhaçado.
A polícia ia fazendo o que podia para parar o transito. Devo dizer que ao contrário da manifestação entre o Saldanha e a Praça de Espanha, em que conhecíamos muitas das pessoas que iam à nossa frente e ao nosso lado, esta ao fim da tarde era feita a passos largos e rápidos. As pessoas que iam connosco eram outras. Gente com a terceira idade, homens de 50 anos, jovens que nunca tínhamos visto em nenhum lugar. E o que mais chamava a atenção era a pressa que tinham em chegar a S.Bento. Espontaneamente, saiam palavras de ordem, que agora também se intensificavam contra o PS. Na Fundação Mário Soares, via-se as pessoas parar, como que hesitando se era para partir ou não. Aquilo chamou-me a atenção. Depois de por lá passar voltei atrás e percebi que não, que o sentimento não era só das pessoas que por lá tinham passado quando eu passei.
Em S.Bento, era notório que a polícia estava bastante comedida. Era visível que eram muito poucos. O Largo já estava cheio até à Calçada da Estrela e a Rua de São Bento estava cheia até perder de vista. Manifestantes começaram a pegar nas grades que estavam no início da escadaria. E os polícias em vez de começar à cacetada como era de esperar, simplesmente puxaram para si as grades e levaram-nas para cima. Alguém desenterrou um dos postes com um sinal de trânsito e foi contra os polícias que simplesmente pegaram no sinal e o levaram para cima. Pessoas começaram a mandar garrafas para os polícias e os polícias nada fizeram. Enquanto isso, os manifestantes apelavam insistentemente a que os polícias se pusessem do lado certo.
Não aconteceu nada. O Parlamento não foi invadido. Ou aconteceu tudo. O Povo sem dúvida mostrou-se mais radicalizado do que as lideranças. A julgar pelo ânimo dos manifestantes, o PS corre um sério risco de seguir o caminho do PASOK. Para isso, basta que continue a afirmar que as medidas de austeridade são necessárias, numa atitude pseudo-patriota e em vez de defender o Povo continue a defender o Capital.
Resumindo, ontem as coisas só não mudaram de rumo porque o Povo não quis. Viu-se que os partidos estão noutro comprimento de onda, completamente afastados dos sentimentos de quem está a ser trucidado, pois apesar de eu conhecer muita gente do PCP, do BE e do PS, andei à procura de notáveis e não encontrei ninguém. Será um sinal dos tempos?
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
Caro Pedro,
Se neste momento 99% de quem está empregado não tem dinheiro suficiente para manter o essencial para a sua vida, dos seus filhos e anciãos, como é que acha que retirando uma parte ainda maior para dar ao 1% e dessa forma contrair ainda mais a procura aumentando o desemprego?
Quando é que será que percebe que os privados não vão investir porque sabem que o risco é demasiado grande?
Quando será que percebe que terá que ser o Estado a fazer aquilo que os privados não querem ou não podem?
Quando será que percebe que está a incorrer num crime?
Quando será que percebe que aqueles que já não têm lugar na sociedade que o Pedro está a criar vão acabar por se zangar?
Sem uma réstia de medo,
Alcides Santos
Quando é que será que percebe que os privados não vão investir porque sabem que o risco é demasiado grande?
Quando será que percebe que terá que ser o Estado a fazer aquilo que os privados não querem ou não podem?
Quando será que percebe que está a incorrer num crime?
Quando será que percebe que aqueles que já não têm lugar na sociedade que o Pedro está a criar vão acabar por se zangar?
Sem uma réstia de medo,
Alcides Santos
sábado, 8 de setembro de 2012
Sejamos então responsáveis!
O que deve fazer um pai quando sabe que não vai encontrar trabalho que pague os gastos para manter a vida dos seus filhos? Se for responsável, tentar viver acima das suas possibilidades enquanto tal for possível e principalmente fazer tudo, mas absolutamente tudo o que estiver ao seu alcance para alterar a situação, mesmo que isso possa parecer à partida irrealizável.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
A importância dos nomes no discurso político
O PS quando tinha que aplicar medidas de austeridade dava-lhes um nome: PEC I, PEC II... O PSD/CDS são mais inteligentes porque não atribuem nome, e assim dificultam o discurso, já que assim não nos podemos referir às medidas pelo seu nome.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
A culpa é do governo ou da troika?
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2749501
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«Não falaram uma vez sobre emprego e desemprego, política de rendimentos e salários e, confrontados com estes problemas, a única coisa que disseram era que não era um problema da troika, mas do programa do Governo», referiu Arménio Carlos.
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«Não falaram uma vez sobre emprego e desemprego, política de rendimentos e salários e, confrontados com estes problemas, a única coisa que disseram era que não era um problema da troika, mas do programa do Governo», referiu Arménio Carlos.
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Mas ele ainda não tinha percebido que o programa era do governo e não da troika? E por isso não faz sentido atacar a troika, porque é isso exactamente aquilo que o governo quer que todos nós façamos?
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