quarta-feira, 4 de abril de 2012

Aprendizes de feitiçaria 2

Seguindo o raciocínio mágico, o Carlos Moedinhas afirma que a reposição dos subsídios de férias e de natal, vulgo 13º e 14º mês, "não podem ser permanentes" e que os cortes "estarão em vigor durante o período de vigência" do programa de ajustamento.
Acontece que nem ele acreditará que o actual programa de empobrecimento dará o resultado esperado porque, exceptuando a troika, o governo não vai conseguir convencer nenhum ser celestial a emprestar-lhe dinheiro e portanto a seguir a este programa vai-nos ser apresentado outro programinha fresquinho.
Isto fará com que gradualmente vá acabando com toda a lógica de justiça social ainda existente no nosso país. Ainda ouviremos falar no fim das férias pagas. As pessoas que ainda tiverem trabalho passarão a trabalhar sem período de férias ou se se mantiverem não serão pagas.
Conjugando isto com o aumento do tempo de trabalho diário, a diferença entre escravatura e aquilo que se está a tornar o mundo laboral será que os escravos não eram formalmente donos do seu corpo e que a vontade dos assalariados é subjugada à necessidade de pagar dívidas contraídas por o salário recebido não chegar para continuar a apresentar-se no local de trabalho.
A rã se for mergulhada em água a ferver salta e salva-se mas se for mergulhada em água à temperatura ambiente à qual se aumenta lentamente a temperatura acaba por morrer cozinhada. Nós estamos a ser ser sujeitos ao mesmo: se a sociedade mudar de um momento para o outro ninguém aceita, mas se as mudanças forem infinitesimais, aceitamos. Estão-nos a aquecer a água. A letargia faz-se sentir. Confundem-nos dizendo uma coisa e fazendo outra. Quando acordarmos a sociedade terá mudado, perdendo-se décadas de lutas por condições de vida dignas.
Quando nos trazem troikas e afins o real objectivo de toda esta gente é a mudança da sociedade, é gradualmente ficar com uma maior parte do fruto do trabalho da sociedade. Mesmo que nos emprestem mais, as dívidas serão cada vez maiores. Enquanto para nós o dinheiro é algo que se obtém trabalhando e se gasta todo imediatamente na manutenção da vida, para os seres divinos o dinheiro já existe e serve para comprar o nosso trabalho que é usado na produção de mais dinheiro. No fim de cada ciclo, nós estamos na mesma, nada nos sobrou a não ser a vida, enquanto que para os seres divinos, no fim da cada ciclo, vêm-se com mais dinheiro que nós lhes demos com o nosso trabalho.
Mas ainda há quem duvide que a luta de classes é a realidade desta sociedade?

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