quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Manifestações contra a troika


Quais são genericamente as consequências de uma guerra? Além das consequências sociais (mortos, feridos, miséria, desintegração familiar...), temos a contracção da economia, destruição do aparelho produtivo, bens confiscados, aumento da dívida, aumento das assimetrias... e um inimigo externo como símbolo de todos os sacrifícios que se pedem (que se exigem) aos de baixo. É por isso que quando se aproxima uma crise económica, é conveniente encontrar um inimigo externo. Dessa forma evita-se uma mutação no regime, uma redistribuição da riqueza, mantendo-se tudo como está, mesmo que as figuras mudem. As semelhanças com o que vivemos são mais que muitas. Só faltam os tiros e as bombas, os mortos e os feridos.
Por outro lado, há coisa de um ano, pus-me a ler vários Memorandos de Entendimento estabelecidos. Tanto com o FMI como com a Troika. E há um que é diferente dos outros. Refiro-me ao memorando entre a Islândia e o FMI (http://www.imf.org/external/np/loi/2008/isl/111508.pdf). Trata-se simplesmente de um plano que descreve como se pretende devolver o dinheiro emprestado. Não há qualquer intervenção na segurança social, na saúde pública, no sistema de ensino, na obrigação de despedimentos em qualquer sector ou obrigação em venda de empresas do estado. Continuou a existir estado de bem-estar do berço à cova. Não se obriga nenhuma transformação radical da sociedade. No caso da Islândia, o FMI limitou-se a comportar-se como aquilo que é: um banco. Deixando de lado a possibilidade de o FMI ser uma instituição racista, a mim parece-me que o conteúdo de cada acordo é aquele que o governante do momento pretende. Viu-se isso mesmo há semanas quando PPC pediu um relatório ao FMI: nele é explícito que o governo foi consultado na sua elaboração. Mas a vantagem é que é apresentado por uma entidade estrangeira. E por isso, mesmo que o Povo se levante, a postura será sempre patriótica, que mantém tudo igual. Ou seja, está-se a simular uma guerra, tanto nas consequências como na apresentação do inimigo externo: a Troika.
Pelo que disse, considero que é um erro manifestações contra a Troika ou contra o FMI. Isso é aceitar que o inimigo está lá fora e não cá dentro, e a pagar a manutenção do governo. De qualquer forma, mesmo considerando um erro, estive, estou e estarei em todas as manifestações contra a Troika.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Europa com água pública

Outro Caminho


Caro Aníbal, caro Pedro, caro Vítor,

Pode ser que fiquem muito contentes pelo momento em que Portugal regressa aos mercados. Pode até que tenham conseguido que de alguma forma se cumpra o défice. No entanto, continuo desempregado e não vislumbro o momento em que esta situação se possa alterar. Vejo, em vez disso, aproximar-se o momento em que deixarei de conseguir garantir uma vida digna à minha família. É dessa forma e em consequência directa das vossas acções que, gradualmente, passaremos a não ter lugar nesta sociedade, que cada vez mais seremos considerados lixo, resíduo, desperdício.

Desejariam certamente que nos calássemos, que mantivéssemos algum orgulho em verificar que, por vocês nos deixarem definhar, possibilitámos que uma minoria mantivesse os seus carros de alta cilindrada e as suas luxuosas casas, e que continuasse a fugir com o capital do país em vez de o investir e assumir os riscos - como era suposto. Acontece que, em vez de evitar incomodar-vos, pretendo, pelo contrário, contactar com outras pessoas que pensem como eu, que estejam dispostas a fazer o necessário para produzir em vocês aquilo que nos estão a induzir.

Tenho a certeza de que entenderão que este propósito não é algo pessoal. Afinal, vocês fazem exactamente o mesmo a tantas crianças, idosos, doentes, trabalhadores ainda no activo e trabalhadores desempregados. Todos nós não somos mais do que vítimas dos propósitos de alguém.

Sinceramente,
Alcides Santos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Regresso aos mercados

Curioso. Portugal regressou aos mercados mas eu continuo desempregado e sem qualquer perspectiva. Que se fodam os mercados.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Admiro a honestidade! Grande homem!

10 euros por uma visita de estudo

Aqui há uns dias, o meu filhote apareceu em casa com um papel da escola onde se pedia autorização para ele ir a uma visita de estudo e nesse caso o pagamento de 10 euros. Respondi que autorizava mas que não ia pagar os 10 euros, e que exigia que se cumprisse a Constituição da República Portuguesa e que ele tivesse a possibilidade de ir a esta importante visita de estudo para assim estar em igualdade de circunstâncias que os seus colegas que a podiam pagar. Acabei de receber um telefonema da directora de turma dizendo que entendia, que concordava e que ia passar o problema ao director da escola. Vou aguardar confiante.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fim da Linha




Caro Pedro,

Enquanto desempregado que vai rapidamente ficar sem poder dar de comer aos seus filhos, é-me difícil aceitar que promovas o meu desemprego para que eu aceite ir trabalhar por migalhas que nem chegarão para pagar o mais básico para manter a minha família. Estás a deixar-nos sem lugar nesta sociedade. Estás a condenar-nos à morte.

Gostaria que recordasses que esta minha condição não resulta da minha vontade, pois sou só um meio para que tu atinjas um único fim: baixar os salários de quem ainda trabalha. Resulta sim da tua teimosia, dos teus dogmas, da tua ideologia, das tuas crenças de que a minha morte provocará, por alguma inexplicável razão, o bem-estar dos restantes. Quer parecer-me que é esta a forma que encontras para evitar retirar àqueles que têm dinheiro acumulado e que, não encontrando forma de comprar a minha força de trabalho, não conseguem multiplicar o dinheiro que lhes sobrou. É evidente que preferes gastar dinheiro em bancos, que preferes pagar uma dívida que eu não contraí; que em vez de fomentar a indústria, a agricultura, as pescas ou as minas, preferes ir destruindo cada vez mais postos de trabalho.

O que me estás a fazer é de uma violência mortal. Considero, e tu estarás certamente de acordo, que sou obrigado a fazer tudo aquilo que estiver ao meu alcance para evitar que consigas alcançar o teu propósito.

Quero dizer-te que à medida que se for aproximando o momento da morte da minha família, que menos soluções encontre, que mais dor inflijas à minha família; maior é a probabilidade de pôr em prática tantas ideias que me vão passando pela cabeça e cujo resultado seria que tivesses o mesmo fim ao qual me estás a levar.

Para evitar o que te digo, gostaria que considerasses seriamente a possibilidade de te demitires rapidamente e deixasses o caminho livre à realização de eleições, pois sabes perfeitamente que já não tens o apoio do Povo.

Sinceramente,
Alcides Santos

desamparo aprendido

Dedicado a quem está contra a austeridade mas mantém o apoio ao memorando