sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Francisco Louça: a esquerda contra a dívidadura

https://sites.google.com/site/repositorioelementoabsorvente/esquerdacontraadividadura%5B1%5D.pdf

O Louçã faz um excelente texto. Limita as possibilidades do que aconteceria na saída do euro. Simplifica as consequências e não considera as decisões políticas que se tomariam nessa eventualidade. Sendo um excelente político, não coloca como possibilidade que os defensores da saída do euro usem essa ferramenta que ele tão bem usa: a política. E talvez ainda mais grave, não considera a possibilidade de que aqueles que fiquem no euro sejam aqueles que não conseguem abandoná-lo. Mas o mais interessante é que considera que a solução seria que a CGD, o Estado Português, o Banco de Portugal, ou quem quer que seja, emitisse moeda. Seria excelente, tinha-se dinheiro para tudo e mais alguma coisa, e até se poderia ser comedido e gastar só na reactivação de actividades produtivas. Suponhamos que nem haveria inflação, suponhamos que para evitar que os privados fugissem com o dinheiro que recebem para arrancar actividades produtivas, passasse o Estado a assumir a função de produtor, para desta forma se reactivasse a economia. Suponhamos que até consegue que as coisas corram bem internamente. Excelente... com um pequeno senão... as regras actuais impedem que um dos estados do euro ou que alguém em seu nome crie moeda, e nisso a Frau Merkel é inflexível e essa inflexibilidade dura mais dois anos, pois só há eleições federais na Alemanha em 2013. Mas como Portugal é um estado soberano, até o decide fazer: emite moeda, ou seja, emite euros. Mesmo contra a autoridade da Frau Merkel. Que é que ela fará? Ela, a Alemanha, a Finlândia, a Áustria, e todo o gestalt merkeliano, acusarão os portugiesisch das maiores infâmias, de terem violado a ordem matriarcal perfeita que é o monopólio de emissão de moeda do banco de Frankfurt, que é só emitir moeda para bancos privados. Em poucas horas, a Alemanha e satélites, abandonam em bloco o euro... e então os que ficarem poderão fazer com a moeda o que quiserem, e em vez de termos o escudo, temos algo que tem outro nome, tem outra cor, tem outra paridade, muitas estrelinhas e pontes, mas que será uma moeda muito desvalorizada que em tudo se assemelhará ao escudo de que tanto se foge.

Parece-me que afinal, mesmo sem nos apercebermos, padecemos todos da doença, do mesmo vírus que nos deixou o neoliberalismo. De alguma forma, nalgum momento, todos nos esquecemos que além de haver economia, existe política, que mesmo que as leis económicas correntes obriguem a determinada coisa, se quem está à frente assim o entender, muda o rumo contra tudo e contra todos, porque toma uma decisão política. E assim, mudam-se as regras e então automaticamente passamos a assumir que as leis da Natureza mudaram... e voltamos a tecer cenários em que as decisões políticas são inexistentes.

Voltando ao texto do Louçã, a sugestão de como actuar mantendo-se no euro é excelente. A interpretação da realidade actual é correcta. E serve mesmo que não se esteja de acordo com a premissa (a saída ou manutenção no euro), e por isso estamos destinados a entender-nos.

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