A esquerda não está a fazer o seu papel. Limita-se a reagir, perdeu a iniciativa. Trata-se da aplicação no nosso país da Doutrina do Choque. E isto num momento em que é evidente que aquilo que é preconizado como solução simplesmente não funciona.
É
incompreensível o estado ficar a assistir à destruição da economia e do
tecido social. Pior: defende a necessidade de empobrecer. Mas o que é
que se entende por empobrecer? Empobrecer não é ficar com menos
dinheiro. É antes deixar de produzir e por essa razão ficar sem meios
para troca por aquilo que outros fazem.
Repete-se o
erro dos tempos coloniais em que se procurava o ouro para ser canalizado
para o exterior e pagar aquilo que não se produzia e dessa forma
desenvolver os outros países enquanto se subdesenvolvia o nosso.
A esquerda necessita de bandeiras.
Se
a iniciativa privada não resolve o problema e se limita a viver de
rendas sem que isso signifique investimento em actividades produtivas,
deverá ser então o estado a assumir essa função.
Os campos estão improdutivos, a indústria deixou de existir, as pescas estão moribundas, não há actividade mineira.
1.
Sendo o estado o capitalista inicial, poderá perfeitamente prescindir
da sua parte do lucro para que o resultado do trabalho seja mais barato
entregando a própria gestão a quem trabalha, formando assim empresas
privadas de outro tipo, pois há uma certeza: a principal preocupação de
quem trabalha é continuar a trabalhar e por isso não irá certamente
descapitalizar a empresa, ao contrário do que costuma acontecer nas
empresas capitalistas.
2. Porque razão não se torna o estado em empregador de último recurso? Porque não fazer uma agência do emprego? Porque será que se procurarmos no google empregador de último recurso
não há nenhuma entrada portuguesa? Acontece que o conceito não é novo. E
não foi usado numa república socialista ou numa república popular...
apareceu nos EUA de Roosevelt, em plena recessão dos anos 30 (ver aqui e aqui).
Mas
onde ir buscar o dinheiro para arrancar? Precisamente aos movimentos de
capitais não produtivos, aos lucros existentes, à exportação de
capitais, taxando a propriedade. Diga-se claramente: a única forma de
fazer o dinheiro crescer é com o trabalho de alguém. Por isso um
investimento não produtivo que obtém lucro, é porque este foi extraído
ao trabalho produzido por outrem e por isso é imerecido e deve ser
taxado fortemente. Por exemplo, nos EUA, a parte da sociedade que
obtinha maior rendimento chegou a ser taxada a 92%... quem não
acreditar, pode confirmar aqui.
Resumindo,
não se trata de discutir se privado é melhor que público ou se o
público é mais barato que o privado. Trata-se de fazer o que for
necessário para que a economia não definhe e dessa forma a vida das
pessoas siga por esse mesmo caminho.
Digamo-lo
frontalmente: se os privados não investem em actividades produtivas,
seja porque não querem, não podem ou não sabem, deverá ser o estado a
arrancar.
Documento escrito ao sabor do Tejo.
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