O capital já não consegue extrair renda
das actividades produtivas e por isso está a tentar invadir aquilo que
são as funções do estado no esforço de continuar a obter uma renda.
Mais, estou convencido que depois de começarem a obter rendas dos
sistemas de pensão, escolas, universidades e saúde, dentro de algum
tempo tentarão fazer o mesmo com o sistemas de segurança, tentando
privatizar o exército, a polícia e a justiça. Acontece que não me parece
que as esquerdas tenham bem claro o que está em curso. Porque se assim
fosse, diriam isso claramente. Para a direita, o importante não é
demonstrar se privado é melhor que público. É levantar a questão para
que assim se aceite as privatizações. Além disso, com as privatizações,
possibilita-se que quem normalmente usa os sistemas privados deixem de
pagar também para o estado.
Como sair disto? Tem que ser claro que os privados não vão investir em
actividades produtivas simplesmente porque sabem que não conseguem
extrair uma renda destas actividades. Essa é a razão da necessidade da
diminuição do preço do trabalho. É que senão acreditarem que ainda é
possível de alguma forma voltar a obter uma renda das actividades
produtivas realizadas cá dentro, sabem que acabarão por perecer. Por
esta razão, na minha opinião, os capitalistas portugueses estão de facto
desesperados. E por isso querem a aplicação do memorando o mais
rapidamente possível. Por isso são submissos aos capitalistas de outras
paragens. É que sabem que não têm na actualidade qualquer possibilidade
de concorrer num mercado aberto. Ou seja, estamos a assistir a uma
guerra entre capitalistas do centro da Europa e capitalistas da
periferia. Os do centro exigem a destruição da capacidade produtiva da
periferia para que dessa forma eles consigam substituir a capacidade
produtiva destruída e continuem a obter uma renda. Os capitalistas da
periferia (os de cá) aspiram que ao seja destruída o mais rapidamente
possível a capacidade produtiva de cá, para que assim, com o preço do
trabalho cada vez mais próximo do zero, consigam rapidamente usar essa
mesma força de trabalho ao preço da uva mijona. O que estão a produzir é
a simulação dos efeitos de uma guerra: destruição da capacidade
produtiva dos beligerantes para que com os armistícios seja necessário
voltar a investir na produção pois os produtos e serviços serão uma
necessidade de todos os que por cá ainda estiverem. Só que como não
estamos em guerra, aqueles que estão neste mesmo mercado europeu
satisfazem rapidamente as nossas necessidades. Mas mesmo assim, é a
única possibilidade que os capitalistas de cá têm para usar a força de
trabalho das pessoas deste país. Por isso, insistem que seja rápido,
muito rápido, e por isso não querem qualquer qualquer renegociação ou
coisa parecida.
Neste sentido (não sei se será esta a razão), estou cada vez mais de
acordo com o PCP ao insistir numa política patriótica e de esquerda. Há
partida, patriótica tem uma conotação de direita, pois o sistema
capitalista não é alterado, é simplesmente uma forma de manter os
capitalistas de cá a explorar o trabalho de cá. Mas na actualidade, sem
isso não há solução para a sustentabilidade do país.
O PS (e até o bloco) põe todos os ovos na Europa, pois considera que sem
o apoio externo, sem o apoio do resto da UE, não temos enquanto país
qualquer possibilidade de viabilidade. Penso que mais tarde ou mais cedo
terá que ser colocado em cima da mesa a necessidade de o estado entrar
nas actividades produtivas, pois nenhum privado o vai fazer. Ora no
quadro da UE e do euro, isso é uma impossibilidade. E isto é um
problema. Por isso, parece-me que a posição do PCP consegue ser mais
assertiva. Honestamente não sei se a "necessidade de uma política
patriótica de esquerda" que o PCP preconiza tem ou não a ver com aquilo
que acabei de dizer. Mas pelo menos parece-me ser a mais próxima disso.
Penso que já é hora de os trabalhadores que vivem neste pedaço de terra
passarem a tomar conta do seu destino, e em vez de continuar à espera
que alguém lá fora os ajude, decidam tomar as rédeas das suas vidas
fazendo aquilo que para eles for o melhor. Isso implica deixar de ficar à
espera que apareça um novo salvador personificado numa pessoa com muito
dinheiro que só quer explorar o seu trabalho.
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