terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Que análise faço da actualidade?

O capital já não consegue extrair renda das actividades produtivas e por isso está a tentar invadir aquilo que são as funções do estado no esforço de continuar a obter uma renda. Mais, estou convencido que depois de começarem a obter rendas dos sistemas de pensão, escolas, universidades e saúde, dentro de algum tempo tentarão fazer o mesmo com o sistemas de segurança, tentando privatizar o exército, a polícia e a justiça. Acontece que não me parece que as esquerdas tenham bem claro o que está em curso. Porque se assim fosse, diriam isso claramente. Para a direita, o importante não é demonstrar se privado é melhor que público. É levantar a questão para que assim se aceite as privatizações. Além disso, com as privatizações, possibilita-se que quem normalmente usa os sistemas privados deixem de pagar também para o estado.
Como sair disto? Tem que ser claro que os privados não vão investir em actividades produtivas simplesmente porque sabem que não conseguem extrair uma renda destas actividades. Essa é a razão da necessidade da diminuição do preço do trabalho. É que senão acreditarem que ainda é possível de alguma forma voltar a obter uma renda das actividades produtivas realizadas cá dentro, sabem que acabarão por perecer. Por esta razão, na minha opinião, os capitalistas portugueses estão de facto desesperados. E por isso querem a aplicação do memorando o mais rapidamente possível. Por isso são submissos aos capitalistas de outras paragens. É que sabem que não têm na actualidade qualquer possibilidade de concorrer num mercado aberto. Ou seja, estamos a assistir a uma guerra entre capitalistas do centro da Europa e capitalistas da periferia. Os do centro exigem a destruição da capacidade produtiva da periferia para que dessa forma eles consigam substituir a capacidade produtiva destruída e continuem a obter uma renda. Os capitalistas da periferia (os de cá) aspiram que ao seja destruída o mais rapidamente possível a capacidade produtiva de cá, para que assim, com o preço do trabalho cada vez mais próximo do zero, consigam rapidamente usar essa mesma força de trabalho ao preço da uva mijona. O que estão a produzir é a simulação dos efeitos de uma guerra: destruição da capacidade produtiva dos beligerantes para que com os armistícios seja necessário voltar a investir na produção pois os produtos e serviços serão uma necessidade de todos os que por cá ainda estiverem. Só que como não estamos em guerra, aqueles que estão neste mesmo mercado europeu satisfazem rapidamente as nossas necessidades. Mas mesmo assim, é a única possibilidade que os capitalistas de cá têm para usar a força de trabalho das pessoas deste país. Por isso, insistem que seja rápido, muito rápido, e por isso não querem qualquer qualquer renegociação ou coisa parecida.
Neste sentido (não sei se será esta a razão), estou cada vez mais de acordo com o PCP ao insistir numa política patriótica e de esquerda. Há partida, patriótica tem uma conotação de direita, pois o sistema capitalista não é alterado, é simplesmente uma forma de manter os capitalistas de cá a explorar o trabalho de cá. Mas na actualidade, sem isso não há solução para a sustentabilidade do país.
O PS (e até o bloco) põe todos os ovos na Europa, pois considera que sem o apoio externo, sem o apoio do resto da UE, não temos enquanto país qualquer possibilidade de viabilidade. Penso que mais tarde ou mais cedo terá que ser colocado em cima da mesa a necessidade de o estado entrar nas actividades produtivas, pois nenhum privado o vai fazer. Ora no quadro da UE e do euro, isso é uma impossibilidade. E isto é um problema. Por isso, parece-me que a posição do PCP consegue ser mais assertiva. Honestamente não sei se a "necessidade de uma política patriótica de esquerda" que o PCP preconiza tem ou não a ver com aquilo que acabei de dizer. Mas pelo menos parece-me ser a mais próxima disso. Penso que já é hora de os trabalhadores que vivem neste pedaço de terra passarem a tomar conta do seu destino, e em vez de continuar à espera que alguém lá fora os ajude, decidam tomar as rédeas das suas vidas fazendo aquilo que para eles for o melhor. Isso implica deixar de ficar à espera que apareça um novo salvador personificado numa pessoa com muito dinheiro que só quer explorar o seu trabalho.

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