Dilma já admite comprar títulos da dívida portuguesa
Segundo a presidente, outras alternativas são estudadas, como a compra antecipada de títulos brasileiros que estão nas mãos do governo português
Dilma: encontro com José Sócrates foi cancelado devido à volta antecipada ao Brasil (Paulo Novais / EFE)
Apesar de ter se calado, na última terça-feira, sobre a possibilidade de o Brasil comprar uma parte da dívida soberana portuguesa para ajudar a economia a superar a grave crise financeira, a presidente Dilma Rousseff voltou atrás. Nesta quarta-feira ela afirmou à imprensa lusitana que o país poderá usar o artifício para colaborar com Portugal. "Estamos estudando a melhor maneira de participar na recuperação da economia portuguesa. Nossas equipes têm um diálogo permanente e fluente sobre esta questão", declarou Dilma em uma entrevista ao jornal Diário Econômico."Uma das possibilidades é a compra de uma parte da dívida soberana portuguesa", destacou a presidente, que também mencionou a análise de "outras alternativas", como "a compra antecipada de títulos brasileiros atualmente nas mãos do governo português". Dilma já havia destacado na terça-feira que o Brasil faria todo o possível para ajudar Portugal, mas também lembrou que no país existem "regras muito rígidas sobre a utilização das reservas". A presidente disse ainda que, até o momento, Portugal não apresentou nenhum pedido formal de ajuda.
Portugal é considerado o próximo candidato a uma ajuda financeira internacional similar à já recebida por Grécia e Irlanda, outros dois membros da zona do euro. Os prazos financeiros espreitam o governo lusitano, que deve pagar 4,2 bilhões de euros de dívida em 15 de abril e outros 4,9 bilhões em 15 de junho. Para certos analistas, Portugal pode tentar superar os vencimentos com empréstimos de outros países sob a forma de compras diretas de sua dívida.
A China, que segundo informações da imprensa nunca desmentidas já teria comprado mais de um bilhão de euros da dívida portuguesa em janeiro, afirmou na semana passada estar disposta a "reforçar os laços" com Portugal. Na quarta-feira da semana passada, o primeiro-ministro português José Sócrates renunciou depois que o Parlamento rejeitou um novo plano de austeridade, que pretendia garantir a redução do déficit público a 2% do PIB até 2013 e evitar o recurso a uma ajuda financeira internacional.
Na entrevista ao Diário Econômico, Dilma Rousseff afirmou ainda que muitas empresas brasileiras estão "interessadas no mercado português" e que deseja uma cooperação maior entre os dois países, especialmente nos "setores de energia, turismo, aeronáutica, telecomunicações e meios de comunicação". "Portugal é um país muito importante para o Brasil. É nossa porta de entrada para a Europa", destacou.
Em Coimbra desde terça-feira, a presidente encurtou a visita a Portugal ao tomar conhecimento da morte do ex-vice-presidente José Alencar. Por essa razão, ela cancelou as reuniões previstas para a tarde de quarta-feira com o colega português, Aníbal Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro demissionário José Sócrates, e deverá voltar ao Brasil para acompanhar o velório de Alencar.
(Com agêcia France-presse)
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