quinta-feira, 16 de junho de 2011

Métricas e outras coisas

O copianço num teste de futuros magistrados e a correspondente atribuição de nota 10 a todos foi um acto pedagógico tanto para os examinandos como para os restantes cidadãos.

Os alunos fingem que aprendem e os professores fingem que aferem conhecimentos. Quando concluído o curso, fingirão que auditam, fingirão a impartição da justiça. Os auditados fingirão que a auditoria é bem feita, os que aceitam as determinações jurídicas fingirão que aceitam a justiça feita.

Na realidade, é assim que este nosso mundo tem funcionado. Vejamos...

Invadem-se países matando milhões de pessoas fingindo que existem perigosíssimas armas em mãos de tiranos, enquanto quem possui essas armas são os invasores. Quem assiste pela TV à matança a milhares de quilómetros finge que acredita que ninguém está a ser morto naquele instante, porque não é salpicado pelo sangue.

Invadem-se nações fingindo que messianicamente se quer espalhar a liberdade e a democracia, os cidadãos dos países invasores fingem que acreditam que não é para se apropriar dos recursos, as elites fingem que é uma necessidade moral, e as populações quando usam os recursos roubados fingem que não sabem que estão a participar na matança.

Destroem-se sociedades com recursos raros em busca do lucro em que uma irrisória parte é dada a IPSS fingindo dessa forma que se compra o perdão enquanto as populações ocidentais fingem que o aparelho de alta tecnologia que acabaram de comprar a preços tão cómodos não foi produzido em condições infra-humanas que resultam no desemprego dos compradores.

Fazem-se campanhas de angariação de dinheiro para ajudar a milhões que morrem de fome por esse mundo fingindo esquecer que pagando impostos justamente o problema ficaria resolvido e até sobrava dinheiro. Quem recebe a ajuda finge que não está desesperado e agradece fingindo que se não recebesse essa ajuda poderia cometer alguma loucura.

Liberaliza-se o mercado de trabalho facilitando os despedimentos fingindo que isso vai incentivar a contratação de mais pessoas. Diminui-se os salários fingindo que todos vão ganhar mais. Quem trabalha finge que acredita nisso com medo de perder ainda mais.

Levantam-se barreiras aos movimentos financeiros fingindo que se está a potenciar a criação de riqueza enquanto todos fingem que são esses mesmos movimentos financeiros que estão a produzir cada vez mais miséria, primeiro no terceiro mundo e agora mesmo ao virar da esquina.

Entidades não eleitas fingem exigir mais democracia enquanto despoticamente dão remédios que fingem que auxiliarão aos que antes seguiram os seus concelhos e cujos líderes fingem que a situação em que se está não dependeu das suas acções. Os eleitores fingem que se esqueceram quem são os responsáveis.

Os mais ricos apelam à solidariedade de todos fingindo que não pretendem uma cada vez maior parte da riqueza produzida enquanto os mais débies fingem que aceitam ficar ainda mais pobres.

Os palhaços palram na TV fingindo acreditar no que dizem enquanto os que os ouvem fingem que se esquecem que quem fala ainda se senta à mesa e partilha do manjar.

Os governantes ao verem que há cada vez mais funções que deixam de ser exercidas fingem que não sabem que os privados não as assumem e que não tem o mandato para fazer o que for necessário para resolver a situação, mesmo que sejam eles a fazer. Os privados fingem que cumprem essas funções mesmo e que não deixarão morrer pessoas se isso implicar uma perda de receita.

Todos nós fingimos que achamos normal que aquilo que existia a leste tenha resultado de uma má aplicação enquanto fingimos que aceitamos que a situação em que desaguámos vinte anos depois resultou também da síntese que a oriente se produziu.

Resumindo, a directora do CEJ, depois de ponderar a realidade deste mundo, e pretendendo certamente que quem estuda a entenda, tomou a decisão correcta: o mundo em que vivemos é uma selvajaria e a justiça é o que resultar necessário para que todos se comportem apropriadamente ao saque a que a maioria é sujeita.

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