domingo, 10 de abril de 2011

Entendendo o «The Economist»

É curiosa a análise que faz o The Economist (ver aqui, aqui, aqui e aqui) deste nosso mundo.

Por um lado, a quando fala sobre os PIGS, obviamente as dívidas são para pagar. Como é evidente que não será possível o pagamento integral desta dívida. Com uma taxa de crescimento inferior à taxa de juro, mesmo descontando a inflação, e graças à magia do juro composto, mesmo com muito esforço daqueles que pagam impostos, rapidamente chegará ao volume máximo possível pagar. Claro que nem se coloca a hipótese de um sistema de impostos muito mais progressivo e nem falar fazer com que as grandes empresas não produtivas paguem impostos da forma que as outras o fazem. O importante é garantir que na maior brevidade possível se recupere o máximo possível do dinheiro investido, sendo óbvio que tem que vir com o lucro determinado pelo psuedo-mercado (sim porque quando este é determinado por classificações de entidades que pertencem a credores, não se pode duvidar nem por um instante como irão actuar). Com este austeritarismo está claramente posta de parte a possibilidade de crescimento e consequente pagamento das dívidas na totalidade. Obviamente, o objectivo não é o pagamento das dívidas, mas o saque de tudo o que for possível por meio da compra de empresas a baixíssimo preço (novamente, determinadas pelas mesmas agências de rating) e imposição de portagens a tudo o que for possível. Afinal, estas rendas possibilitam uma margem maior do que o próprio lucro da dívida.

Trata-se portanto de uma luta em função do dinheiro.

Por outro, quando se fala sobre as crises dos países árabes, estas são devidas a problemas de falta de liberdade e democracia.

Trata-se portanto de uma luta de poder.

Porque não ver as coisas ao contrário?

Será que nos PIGS a luta é pelo poder?

Será que nos países árabes a luta em função do dinheiro? Afinal, também aqui se encontram populações que não conseguem o essencial para a sua subsistência.

Pessoalmente, tanto nos PIGS como nos países árabes, vejo antes como uma luta pela possibilidade de fazer a distribuição do lucro, de ficar com uma maior parte deste.

Se nos países árabes fosse quem trabalha a distribuir o lucro gerado, certamente o petróleo já há muito teria possibilitado o desenvolvimento da sociedade e aquilo que assistimos nunca teria acontecido.

Se nos PIGS, a distribuição do lucro gerado pelas empresas produtivas fosse realizado por quem trabalha, certamente o sistemas produtivo (agricultura e indústria) não teria sido dizimado aquando da entrada na CEE, não teriam existido quaisquer deslocalizações, existiria muito menos desemprego (afinal, quem trabalha dá mais importância a manter o seu trabalho do que ao lucro), o estado social não teria entrado em colapso, pois quem trabalha nunca consideraria possível a desorçamentação que existe porque isso implicaria uma perda pessoal. Teríamos portanto maior produtividade, mais pagamento de impostos, seriamos muito mais auto-suficientes e não teríamos o problema que temos agora.

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