quarta-feira, 6 de abril de 2011

Relativizemos.

O FMI ou quem quer que seja, está a desembarcar.
Numa situação destas, nada melhor que ver situações piores.

Vou-vos contar algo sobre a Colômbia, país onde vivi 7 anos, e com o qual tenho laços familiares: a minha mulher é colombiana, um dos meus filhos nasceu lá, a outra apesar de ter nascido cá, sente-se mais colombiana. Trata-se de um belo país, com tudo para dar certo: petróleo, ouro, pedras preciosas, dois oceanos, muita selva tropical, civilizações milenares, todos os climas (deserto, selva tropical, neves perpétuas), de tal forma que qualquer estação do ano (como as conhecemos na Europa), estão a duas horas de caminho: ao subir os Andes, vai-se obtendo mais frio, descendo os Andes, vai-se obtendo mais calor. Além disso, ao estar no equador, semeia-se duas vezes ao ano, têm tanta variedade de fruta que nem quem é de lá sabe o sabor de todas elas...
Tem vários povos europeus (tanto descendentes de colonizadores, como emigrantes do século passado), descendentes de escravos negros, indígenas, grandes comunidades de asiáticos e claro, todas as mestiçagens possíveis entre estas raças.

No entanto, todos sabem que exporta droga.

As áreas cultivadas com papoilas necessitam de gente armada que as "defendam". Esta função pode ser cumprida por guerrilheiros, por auto-defesas (grupos armados privados que surgiram em oposição à guerrilha, criados por Álvaro Uribe, antes de que fosse eleito presidente), por delinquentes comuns, por militares de carreira, sendo que o prestador do serviço, dependendo do rumo da guerra, pode mudar.

Neste nosso mundo, só sabemos que exportam droga, não sabemos que o sangue da luta contra o narcotráfico é colombiano.

Ao ser eleito Álvaro Uribe (anterior presidente da república), em poucos meses desatou a uma luta sem tréguas com a guerrilha, provocando um êxodo massivo de populações inteiras para as grandes cidades, em especial indígenas.
À medida que foi "libertando" da guerrilha, numa lógica de "recuperação" económica, foi dando essas mesmas terras a grandes produtores, a maior parte multinacionais norte americanas, de produtos agrícolas para exportação.
Entretanto, ao acabar a guerrilha, diminuiu a violência, e os indígenas tentaram voltar para as suas terras, tendo encontrado os seus territórios ocupados pelas multinacionais. Mas o pior nem é isso. Além de não reconhecer o seu território (devido à industrialização entretanto efectuada), não conseguem demonstrar que aquilo lhes pertence. Apesar de terem nascido na Colômbia, não falam espanhol, não têm identificação civil, não têm registo das suas terras, não conseguem trabalho (afinal, ao não estarem registados como cidadãos, não podem descontar nem para segurança social estatal nem para nenhuma companhia privada).
Este problema dura há anos.

Portanto, meus caros, a nossa situação é péssima, mas sabemos o que temos que fazer, temos os meios, falta-nos talvez a confiança e a coordenação.

Mas está só nas nossas mãos.

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