Estamos onde estamos.
Espera-se um retrocesso social.
Preparam-nos para o choque que isso implica.
E nós, obedientemente, aceitamos o aumento da desigualdade que o aumento da produtividade e a evolução tecnológica permitiu. Afinal, ao assumirmos que temos que preservar o essencial, aceitamos que algo vamos perder, sendo que o que se perde vai para outro lado que até já tem o suficiente.
Penso que é hora de recordar qual é o objectivo e tomar acções nesse sentido. Qual é afinal o objectivo final? Pode parecer algo deslocado mas, até há bem pouco tempo, era acabar com a exploração do homem pelo homem. Se virmos bem, a situação pela qual estamos a passar, seria um excelente momento para trazer para a ribalta este assunto. É esta exploração do homem pelo homem que tem vindo a aumentar, é esta exploração do homem pelo homem que se antecipa que aumente e é falar nisto que pode fazer com que se olhe para outras soluções.
Continuarmos a lutar por menos redução de salário, continuarmos a lutar por menos aumento do volume de trabalho, continuarmos a lutar por menos cortes no Serviço Nacional de Saúde, continuarmos a lutar por menos redução na Segurança Social, é implicitamente aceitar que esse caminho é de alguma forma correcto, e que a ser feito, que seja menos doloroso.
Nesta situação, em que caminhamos para o abismo, deveríamos pelo contrário reafirmar as causas deste p|ano /ncl\nado em que nos encontramos (e não me refiro às daquele vígaro que usando dados verdadeiros tira conclusões que são parcialmente verdadeiras, sem no entanto trazer a lume a verdadeira razão desta situação).
Falo da santificada concorrência sem regras, em que os que ganham o conseguem fazer por partir com vantagem tal que os que estão destinados a perder continuarão numa situação cada vez mais débil de forma a estarem completamente à mercê, para que quando lhes seja requerido pelos ganhadores, estejam completamente sedentos e implorem a possibilidade de poder participar na criação de riqueza para aqueles que já não sabem que fazer com ela. Não que a existência de mercado seja algo bom ou mau: a existir, este deveria de ser de facto concorrencial, este deveria impor regras em que aqueles que partem atrás se encontram em condições semelhantes aos que partem à frente.
Mas acima de tudo, questiono qual é a razão de ser desta sociedade, em que a grande maioria fica pacientemente a assistir ao roubo a que se é sujeito confirmando com o sue voto (ou com a sua ausência) esta nossa realidade.
Como digo, em vez de dar tudo por tudo em combates infinitesimais em redor da minimização de perdas sociais (não afirmo que não devam ser travados) talvez devêssemos em vez disso utilizar as nossas energias a apontar para um diferente caminho, esse sim virado para o objectivo final, porque é desse que nos queremos aproximar, com a certeza de que se nos aproximarmos dele, os objectivos conjunturais também irão sendo alcançados.
Porque razão, neste clima de grande dificuldade, em que as desigualdades se agigantam, em vez de lutarmos por mais ou menos estado (não estou a afirmar que não devamos contribuir com a nossa opinião, antes pelo contrário), deveríamos lutar antes pelo estabelecimento de outras relações de produção.
Porque não usar este momento para exigir os mesmos apoios para a formação de cooperativas semelhantes aos que são dados aos bancos?
Se há 12,5 mil milhões de euros para dar aos bancos para que estes tenham para emprestar às empresas e daí retirar um lucro substancial, porque razão não se há-de curto-circuitar estes mesmos bancos e apoiar directa e activamente a criação de cooperativas, para que sejam os próprios trabalhadores a assumirem o rumo das suas vidas e contribuir para reduzir a exploração do homem pelo homem?
Como digo, falta clareza da nossa parte em relação ao objectivo final.
Estamos a deixar que sejam outros a definir aquilo que nós discutimos enquanto em conjunto a sociedade segue no rumo que interessa a outros que não o Povo.
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