quinta-feira, 31 de março de 2011
Quem fez o 25 de Abril?
Queiram ou não, é o que dá em comermos muitos enlatados e comida plástica tipo big brother e concursos de palermices, muitos brinquedos, muitos gadgets. Deu num povo sem memória que não sabe o que custou chegar aonde se está e pior que isso, um povo sem capacidade para perceber os sinais actuais, que poderão perfeitamente desaguar num regime semelhante, que não entende que está a ser roubado.
Têm-nos como querem: dóceis, ignorantes, insensíveis...
quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
Carta a Portugal escrita na Irlanda
Bit of friendly advice, Portugal
Sunday March 27 2011
Dear Portugal, this is Ireland here. I know we don't know each other very well, though I hear some of our developers are down with you riding out the recession.
They could be there for a while. Anyway, I don't mean to intrude but I've been reading about you in the papers and it strikes me that I might be able to offer you a bit of advice on where you are at and what lies ahead. As the joke now goes, what's the difference between Portugal and Ireland? Five letters and six months.
Anyway, I notice now that you are under pressure to accept a bailout but your politicians are claiming to be determined not to take it. It will, they say, be over their dead bodies. In my experience that means you'll be getting a bailout soon, probably on a Sunday. First let me give you a tip on the nuances of the English language. Given that English is your second language, you may think that the words 'bailout' and 'aid' imply that you will be getting help from our European brethren to get you out of your current difficulties. English is our first language and that's what we thought bailout and aid meant. Allow me to warn you, not only will this bailout, when it is inevit-ably forced on you, not get you out of your current troubles, it will actually prolong your troubles for generations to come.
For this you will be expected to be grateful. If you want to look up the proper Portuguese for bailout, I would suggest you get your English-Portuguese dictionary and look up words like: moneylending, usury, subprime mortgage, rip-off. This will give you a more accurate translation of what will be happening you.
I see also that you are going to change your government in the next couple of months. You will forgive me that I allowed myself a little smile about that. By all means do put a fresh coat of paint over the subsidence cracks in your economy. And by all means enjoy the smell of fresh paint for a while.
We got ourselves a new Government too and it is a nice diversion for a few weeks. What you will find is that the new government will come in amidst a slight euphoria from the people. The new government will have made all kinds of promises during the election campaign about burning bondholders and whatnot and the EU will smile benignly on while all that loose talk goes on.
Then, when your government gets in, they will initially go out to Europe and throw some shapes. You might even win a few sports games against your old enemy, whoever that is, and you may attract visits from foreign dignitaries like the Pope and that. There will be a real feel-good vibe in the air as everyone takes refuge in a bit of delusion for a while.
And enjoy all that while you can, Portugal. Because reality will be waiting to intrude again when all the fun dies down. The upside of it all is that the price of a game of golf has become very competitive here. Hopefully the same happens down there and we look forward to seeing you then.
Love, Ireland.
They could be there for a while. Anyway, I don't mean to intrude but I've been reading about you in the papers and it strikes me that I might be able to offer you a bit of advice on where you are at and what lies ahead. As the joke now goes, what's the difference between Portugal and Ireland? Five letters and six months.
Anyway, I notice now that you are under pressure to accept a bailout but your politicians are claiming to be determined not to take it. It will, they say, be over their dead bodies. In my experience that means you'll be getting a bailout soon, probably on a Sunday. First let me give you a tip on the nuances of the English language. Given that English is your second language, you may think that the words 'bailout' and 'aid' imply that you will be getting help from our European brethren to get you out of your current difficulties. English is our first language and that's what we thought bailout and aid meant. Allow me to warn you, not only will this bailout, when it is inevit-ably forced on you, not get you out of your current troubles, it will actually prolong your troubles for generations to come.
For this you will be expected to be grateful. If you want to look up the proper Portuguese for bailout, I would suggest you get your English-Portuguese dictionary and look up words like: moneylending, usury, subprime mortgage, rip-off. This will give you a more accurate translation of what will be happening you.
I see also that you are going to change your government in the next couple of months. You will forgive me that I allowed myself a little smile about that. By all means do put a fresh coat of paint over the subsidence cracks in your economy. And by all means enjoy the smell of fresh paint for a while.
We got ourselves a new Government too and it is a nice diversion for a few weeks. What you will find is that the new government will come in amidst a slight euphoria from the people. The new government will have made all kinds of promises during the election campaign about burning bondholders and whatnot and the EU will smile benignly on while all that loose talk goes on.
Then, when your government gets in, they will initially go out to Europe and throw some shapes. You might even win a few sports games against your old enemy, whoever that is, and you may attract visits from foreign dignitaries like the Pope and that. There will be a real feel-good vibe in the air as everyone takes refuge in a bit of delusion for a while.
And enjoy all that while you can, Portugal. Because reality will be waiting to intrude again when all the fun dies down. The upside of it all is that the price of a game of golf has become very competitive here. Hopefully the same happens down there and we look forward to seeing you then.
Love, Ireland.
Sunday Independent
domingo, 27 de março de 2011
Estou desorientado
Posso dizer que ontem levei um pontapé e que ainda não recuperei.
Era para mim claro que ou a UE resolvia o problema das dívidas públicas no seu conjunto ou teríamos que sair do euro. Tinha a esperança que especialistas apresentassem uma outra visão. Enganei-me.
Assim:
Era para mim claro que ou a UE resolvia o problema das dívidas públicas no seu conjunto ou teríamos que sair do euro. Tinha a esperança que especialistas apresentassem uma outra visão. Enganei-me.
Assim:
- Ou a UE no seu conjunto resolve a situação, porque o problema tocará a todos,
- Ou então, será extremamente doloroso, FOME. Implicará medidas drásticas, de um dia para o outro, que levará a uma fuga de capitais. Ora esses capitais serão necessários para conseguirmos comprar os produtos que ainda não produzimos, que estaremos em vias de começar a produzir, mas que são essenciais para a vida. Recordemos que, graças à entrada na CEE, nós não temos sistema de produção industrial, e especialmente não temos agricultura. Para os capitais não fugirem, eles não podem saber que vão ter todos tomados pelo estado. Isso implica que não se pode dizer aos cidadãos qual é a forma de sair da espiral de contracção económica em que estamos metidos.
Começou na Islândia
O filme na totalidade anda por aí na net.
Até agora, temos estado convencidos que a actual onda de revoluções começou na Tunísia.
Na realidade, foi na Islândia, só que ter consciência disso implicará que também iremos passar por tumultos sérios neste nosso cantinho. Se assim é, talvez fosse hora de ponderar seriamente qual a atitude a tomar.
sábado, 26 de março de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
Mário Henrique Leiria dito por Mário Viegas
Pedido de ajuda aos liberais
Vou pedir um favor especial, em particular a quem defende o liberalismo: podem-me ajudar a encontrar o erro neste raciocínio?
Penso ser defendido a liberalização dos salários, de forma a que não existam limites inferiores nem superiores. Mais, é defendido que só esta simples medida aumentará a concorrência o que levará a um aumento gradual dos salários.
De facto, numa situação de pleno emprego, as empresas para conseguir alguém disponível para realizar as tarefas necessárias para a criação de riqueza, terão que competir umas com as outras por um recurso escasso, que é a mão de obra, o que obviamente fará com que o preço do trabalho aumente.
Vejamos agora numa situação contrária, em que existe por exemplo, 10% de desemprego (penso estar a ser meigo, porque a nossa realidade ainda é pior). Independentemente da taxa de lucro que cada empresa obtenha, o excesso de mão de obra vai levar a um abaixamento da preço desta. São simplesmente as regras do mercado a funcionar. Acontece que ao haver abaixamento do preço da mão de obra, os consumidores terão menos dinheiro disponível o que irá reduzir a procura, que por sua vez irá induzir um abaixamento na produção, o que implicará ainda menos postos de trabalho disponíveis, e assim sucessivamente. Ainda pior do que o abaixamento do preço da mão de obra, levará a que cada um trabalhe ainda mais, para assim tentar manter o nível de vida. Mas isso ainda reduzirá mais aquele recurso escasso que é o trabalho por fazer.
Aquilo que peço é que por favor me ajudem a encontrar um erro neste raciocínio.
Eu quero acreditar que as propostas liberais funcionam, mas não estou a conseguir.
Ajudam-me?
Penso ser defendido a liberalização dos salários, de forma a que não existam limites inferiores nem superiores. Mais, é defendido que só esta simples medida aumentará a concorrência o que levará a um aumento gradual dos salários.
De facto, numa situação de pleno emprego, as empresas para conseguir alguém disponível para realizar as tarefas necessárias para a criação de riqueza, terão que competir umas com as outras por um recurso escasso, que é a mão de obra, o que obviamente fará com que o preço do trabalho aumente.
Vejamos agora numa situação contrária, em que existe por exemplo, 10% de desemprego (penso estar a ser meigo, porque a nossa realidade ainda é pior). Independentemente da taxa de lucro que cada empresa obtenha, o excesso de mão de obra vai levar a um abaixamento da preço desta. São simplesmente as regras do mercado a funcionar. Acontece que ao haver abaixamento do preço da mão de obra, os consumidores terão menos dinheiro disponível o que irá reduzir a procura, que por sua vez irá induzir um abaixamento na produção, o que implicará ainda menos postos de trabalho disponíveis, e assim sucessivamente. Ainda pior do que o abaixamento do preço da mão de obra, levará a que cada um trabalhe ainda mais, para assim tentar manter o nível de vida. Mas isso ainda reduzirá mais aquele recurso escasso que é o trabalho por fazer.
Aquilo que peço é que por favor me ajudem a encontrar um erro neste raciocínio.
Eu quero acreditar que as propostas liberais funcionam, mas não estou a conseguir.
Ajudam-me?
Opinião do insuspeito George Soros
Negócios Online, 24 de Março de 2011, George Soros
De facto, a Europa enfrenta não só uma crise económica e financeira, mas também, em resultado destas, uma crise política. Os vários Estados-membros definiram políticas muito diferentes, que reflectem os seus pontos de vista e não os verdadeiros interesses nacionais – um choque de percepções que lançaram as sementes de um sério conflito político.
A solução que a Europa se prepara para adoptar é, na verdade, ditada pela Alemanha, cujo crédito soberano é necessário para qualquer solução. Os esforços da França para influenciar o resultado final estão limitados pela sua dependência a uma estreita aliança com a Alemanha devido aos seus "ratings" soberanos AAA.
A Alemanha imputa a crise aos países que perderam competitividade e acumularam dívidas. Em consequência, a Alemanha coloca todo o peso do ajustamento sobre os países deficitários. Mas isto ignora grande parte de responsabilidade da Alemanha na actual crise monetária e bancária, e mesmo na crise da dívida soberana.
Quando o euro foi introduzido, esperava-se que gerasse convergência entre as economias da Zona Euro. Em vez disso, gerou divergência. O Banco Central Europeu (BCE) tratou as dívidas soberanas dos Estados membros como se não tivessem risco e aceitou as suas obrigações governamentais nos mesmos termos. Isto levou os bancos, que eram obrigados a deter activos sem riscos para cumprir os requisitos de liquidez, a ganhar mais alguns pontos base adquirindo dívida soberana dos países mais frágeis.
As taxas de juro baixaram nos chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) e provocaram uma bolha no sector imobiliário, numa altura em que os custos da reunificação forçaram a Alemanha a apertar o cinto. Isto causou a divergência na competitividade e uma crise bancária na Europa, que afectou os bancos alemães mais do que os outros.
De facto, a Alemanha tem resgatado os países altamente endividados como forma de proteger o seu próprio sistema bancário. Por exemplo, a enorme dívida soberana da Irlanda surgiu porque as autoridades da Zona Euro, na tentativa de salvar o sistema bancário, forçaram os irlandeses a nacionalizar os seus bancos como condição para os manter à tona. Assim, dado que os mecanismos impostos pela Alemanha protegem o sistema bancário partindo do pressuposto que a dívida soberana pendente é sagrada, os países devedores devem assumir todo o peso do ajustamento.
Esta situação faz lembrar a crise internacional do sector bancário de 1982, quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional emprestaram aos países devedores dinheiro suficiente para cobrirem as suas dívidas até que os bancos pudessem reunir reservas suficientes para trocar as suas dívidas incobráveis por títulos Brady em 1989. Isso significou uma "década perdida" para as economias da América Latina. De facto, os planos actuais penalizam os países deficitários ainda mais do que nos anos 80, porque estes vão ter que pagar prémios de risco consideráveis após 2013.
Há algo de incongruente em resgatar o sistema bancário uma vez mais e depois "condenar" os detentores de dívida soberana após 2013 através da introdução de cláusulas de acção colectiva. Além disso, os requisitos de competitividade exigidos pela Alemanha vão ser impostos a países que não estão em igualdade de circunstâncias, o que deixa os países deficitários numa situação insustentável, que poderá mesmo arrastar a Espanha, que no início da crise do euro tinha um rácio da dívida mais baixo do que da Alemanha. Em resultado, a União Europeia irá sofrer algo pior do que uma década perdida; terá que suportar uma divergência crónica, em que os países excedentários avançam e os países deficitários são arrastados pelo peso da dívida acumulada.
A Alemanha está a ser pressionada para impor estes mecanismos. Mas a opinião pública alemã está confusa porque não lhe foi dita toda a verdade. Como as regras fixadas no final de Março criam uma Europa a duas velocidades, é provável que gerem ressentimentos que podem colocar em risco a coesão política da União Europeia.
São necessárias duas mudanças importantes. Em primeiro lugar, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira deve servir para resgatar o sistema bancário e também os Estados-membros. Isto permitirá reestruturar a dívida soberana sem precipitar uma crise do sistema bancário. Apesar desta tarefa adicional, a dimensão do pacote de resgate pode permanecer igual porque qualquer montante utilizado para recapitalizar ou liquidar os bancos reduzirá o montante que os governos necessitam.
Colocar o sistema bancário sob a supervisão europeia, em vez de o deixar nas mãos das autoridades nacionais, seria uma melhoria importante que ajudaria a restabelecer a confiança. E teria o mérito adicional de informar a opinião pública alemã dos verdadeiros propósitos da operação de resgate.
Em segundo lugar, para criar condições de igualdade teriam que ser eliminados os prémios de risco dos custos de crédito para os países que cumpram as normas. Isto poderia ser possível através da conversão da maioria da sua dívida soberana em Eurobonds. Cada país teria, então, que emitir as suas próprias obrigações com cláusulas de acção colectiva e só pagaria o prémio de risco sobre os montantes que excedem o limite da dívida pública (60% do produto interno bruto) definido pelo Tratado de Maastricht.
O primeiro passo deveria e poderia ser tomado imediatamente; o segundo terá que esperar. A opinião pública alemã está longe de o aceitar. No entanto, é claramente necessário para restabelecer as condições de igualdade na Europa.
A União Europeia tem sido construída passo a passo. Os seus arquitectos sabiam, à partida, que cada passo era insuficiente e que era necessário continuar em frente. No entanto, tinham a certeza de que quando chegasse a hora de resolver um problema, seria possível alcançar a vontade política necessária.
Desta vez, pelo contrário, as perspectivas de uma Europa a duas velocidades afectarão a coesão política europeia, e em consequência, a capacidade de agir em uníssono quando necessário. Por isso, é necessário reconhecer claramente a necessidade do próximo passo na integração europeia em conjunto com a implementação do mecanismo de solução da crise da União Europeia. De outro modo, os países deficitários não terão esperanças de sair da situação difícil seja qual for o trabalho duro que façam.
George Soros é presidente do Soros Fund Management
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org
A chamada crise do euro é, geralmente, vista, exclusivamente, como uma crise cambial. Mas esta crise é também uma crise da dívida soberana – e mais do que isso é uma crise do sector bancário.
A chamada crise do euro é, geralmente, vista, exclusivamente, como uma crise cambial. Mas esta crise é também uma crise da dívida soberana – e mais do que isso é uma crise do sector bancário. A complexidade da situação gerou confusão e essa confusão tem consequências políticas. De facto, a Europa enfrenta não só uma crise económica e financeira, mas também, em resultado destas, uma crise política. Os vários Estados-membros definiram políticas muito diferentes, que reflectem os seus pontos de vista e não os verdadeiros interesses nacionais – um choque de percepções que lançaram as sementes de um sério conflito político.
A solução que a Europa se prepara para adoptar é, na verdade, ditada pela Alemanha, cujo crédito soberano é necessário para qualquer solução. Os esforços da França para influenciar o resultado final estão limitados pela sua dependência a uma estreita aliança com a Alemanha devido aos seus "ratings" soberanos AAA.
A Alemanha imputa a crise aos países que perderam competitividade e acumularam dívidas. Em consequência, a Alemanha coloca todo o peso do ajustamento sobre os países deficitários. Mas isto ignora grande parte de responsabilidade da Alemanha na actual crise monetária e bancária, e mesmo na crise da dívida soberana.
Quando o euro foi introduzido, esperava-se que gerasse convergência entre as economias da Zona Euro. Em vez disso, gerou divergência. O Banco Central Europeu (BCE) tratou as dívidas soberanas dos Estados membros como se não tivessem risco e aceitou as suas obrigações governamentais nos mesmos termos. Isto levou os bancos, que eram obrigados a deter activos sem riscos para cumprir os requisitos de liquidez, a ganhar mais alguns pontos base adquirindo dívida soberana dos países mais frágeis.
As taxas de juro baixaram nos chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) e provocaram uma bolha no sector imobiliário, numa altura em que os custos da reunificação forçaram a Alemanha a apertar o cinto. Isto causou a divergência na competitividade e uma crise bancária na Europa, que afectou os bancos alemães mais do que os outros.
De facto, a Alemanha tem resgatado os países altamente endividados como forma de proteger o seu próprio sistema bancário. Por exemplo, a enorme dívida soberana da Irlanda surgiu porque as autoridades da Zona Euro, na tentativa de salvar o sistema bancário, forçaram os irlandeses a nacionalizar os seus bancos como condição para os manter à tona. Assim, dado que os mecanismos impostos pela Alemanha protegem o sistema bancário partindo do pressuposto que a dívida soberana pendente é sagrada, os países devedores devem assumir todo o peso do ajustamento.
Esta situação faz lembrar a crise internacional do sector bancário de 1982, quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional emprestaram aos países devedores dinheiro suficiente para cobrirem as suas dívidas até que os bancos pudessem reunir reservas suficientes para trocar as suas dívidas incobráveis por títulos Brady em 1989. Isso significou uma "década perdida" para as economias da América Latina. De facto, os planos actuais penalizam os países deficitários ainda mais do que nos anos 80, porque estes vão ter que pagar prémios de risco consideráveis após 2013.
Há algo de incongruente em resgatar o sistema bancário uma vez mais e depois "condenar" os detentores de dívida soberana após 2013 através da introdução de cláusulas de acção colectiva. Além disso, os requisitos de competitividade exigidos pela Alemanha vão ser impostos a países que não estão em igualdade de circunstâncias, o que deixa os países deficitários numa situação insustentável, que poderá mesmo arrastar a Espanha, que no início da crise do euro tinha um rácio da dívida mais baixo do que da Alemanha. Em resultado, a União Europeia irá sofrer algo pior do que uma década perdida; terá que suportar uma divergência crónica, em que os países excedentários avançam e os países deficitários são arrastados pelo peso da dívida acumulada.
A Alemanha está a ser pressionada para impor estes mecanismos. Mas a opinião pública alemã está confusa porque não lhe foi dita toda a verdade. Como as regras fixadas no final de Março criam uma Europa a duas velocidades, é provável que gerem ressentimentos que podem colocar em risco a coesão política da União Europeia.
São necessárias duas mudanças importantes. Em primeiro lugar, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira deve servir para resgatar o sistema bancário e também os Estados-membros. Isto permitirá reestruturar a dívida soberana sem precipitar uma crise do sistema bancário. Apesar desta tarefa adicional, a dimensão do pacote de resgate pode permanecer igual porque qualquer montante utilizado para recapitalizar ou liquidar os bancos reduzirá o montante que os governos necessitam.
Colocar o sistema bancário sob a supervisão europeia, em vez de o deixar nas mãos das autoridades nacionais, seria uma melhoria importante que ajudaria a restabelecer a confiança. E teria o mérito adicional de informar a opinião pública alemã dos verdadeiros propósitos da operação de resgate.
Em segundo lugar, para criar condições de igualdade teriam que ser eliminados os prémios de risco dos custos de crédito para os países que cumpram as normas. Isto poderia ser possível através da conversão da maioria da sua dívida soberana em Eurobonds. Cada país teria, então, que emitir as suas próprias obrigações com cláusulas de acção colectiva e só pagaria o prémio de risco sobre os montantes que excedem o limite da dívida pública (60% do produto interno bruto) definido pelo Tratado de Maastricht.
O primeiro passo deveria e poderia ser tomado imediatamente; o segundo terá que esperar. A opinião pública alemã está longe de o aceitar. No entanto, é claramente necessário para restabelecer as condições de igualdade na Europa.
A União Europeia tem sido construída passo a passo. Os seus arquitectos sabiam, à partida, que cada passo era insuficiente e que era necessário continuar em frente. No entanto, tinham a certeza de que quando chegasse a hora de resolver um problema, seria possível alcançar a vontade política necessária.
Desta vez, pelo contrário, as perspectivas de uma Europa a duas velocidades afectarão a coesão política europeia, e em consequência, a capacidade de agir em uníssono quando necessário. Por isso, é necessário reconhecer claramente a necessidade do próximo passo na integração europeia em conjunto com a implementação do mecanismo de solução da crise da União Europeia. De outro modo, os países deficitários não terão esperanças de sair da situação difícil seja qual for o trabalho duro que façam.
George Soros é presidente do Soros Fund Management
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org
Redes Sociais, 12/03 - O futuro acontece
Começou por circular um mail apelando a um milhão de pessoas na Av. da Liberdade, exigindo a demissão de toda a classe política. Nesse então, ainda se estava em campanha eleitoral para a eleição que viria a coroar Cavaco Silva.
Existia todo um ambiente de triunfo da direita.
A noite de eleições confirma a esperada vitória... e ocorre no Coliseu do Porto um concerto de música de raízes portuguesas que emociona a jovem audiência com uma frase crua e simples, que numa voz suave proclama:
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
O vídeo aparece nessa mesma noite no youtube.
Uma semana depois, em Lisboa, as mesmas lágrimas, a mesma emoção.
Torna-se num hino para jovens e menos jovens.
Pouco depois, três ou quatro deles, criam um evento no Facebook agendando para 12 de Março (a pouco mais de um mês), apelando a uma manifestação na Av. da Liberdade e na Pç. da Batalha ao qual chamam Protesto da Geração à Rasca (GàR).
Aparecem outros movimentos tentando assenhorar-se da ideia. Observa-se uma tentativa de colonização mútua. Instala-se a confusão. É difícil entender o que se passa naquela plataforma electrónica em que se partilham fotografias com a família e vontades para amizades coloridas.
Numa mesma página, lado a lado, encontra-se todas as tonalidades ideológicas e religiosas, desde grupos que acreditam que somos descendentes de extra-terrestres, de grupos que acreditam que o fim está próximo, grupos que apelam à meditação como solução dos males do mundo, grupos exigem que os estrangeiros saiam de Portugal, gente que pede a salvação do Sporting, anarquistas, monárquicos, liberais, comunistas de vários sabores, nacionalistas, bloquistas, social-democratas, maçons, neo-liberais, católicos... apelos à revolução, apelos à anarquia, apelos á violência, apelos à paz, apelos à desobediência civil... manuais de como fazer um Cocktail Molotov, manuais de como fabricar toda a classe de armas, manuais de como sobreviver em caso de guerra, manuais de como reagir em caso de explosão nuclear (ainda não tinha havido Tsunami no Japão), manuais como reagir pacificamente a uma carga policial, manuais de auto-ajuda... toda a classe de livros, filmes, música e fotografia disponíveis online, uns interessantíssimos, outros nem tanto... muita criatividade espontânea.
Os órgãos de comunicação social começam a dar importância ao assunto. Ouvem-se os costumeiros especialistas que sempre sabem de tudo, vaticinando o fim do movimento, prognosticando a adesão de trinta, quarenta ou cinquenta mil pessoas, analisando os objectivos e razões últimas, afirmando que o movimento era instrumentalizado por todos e cada um dos movimentos e correntes de opinião.
No Facebook, no perfil da GàR, houve inicialmente alguma censura, em que os promotores tentavam desesperadamente controlar o que era exposto. Tiveram várias vezes que fazer declarações sobre o que o movimento era e não era. Houve a inteligência de definir claramente o que era pretendido, de tal forma que quem fosse de direita se sentiria deslocado em declarar o seu apoio.
A vinte e quatro horas do evento, ao mesmo tempo que Sócrates e Teixeira dos Santos apresentam o PEC IV, 58.000 pessoas afirmavam que iriam estar presentes, 45.000 pessoas declaravam que talvez o fizessem, 81.000 recusavam o convite e uma mole de 495.000 pessoas estavam indecisas; à meia-noite desse dia, eram 62.400 os que estariam presentes, 46.500 os indecisos, 85.500 os que negavam a sua presença e uns assombrosos 513.000 indecisos. Às zero horas e doze minutos, 707.532 pessoas diferentes tinham visitado esta página, sendo que houve um pico entre as 20:44 e as 20:50, com 543 novos visitantes a aceder, o que representa uma média de 1,5 novo perfil por segundo.
É importante clarificar que no Facebook, ao contrário de outras situações, quem visita determinada página está identificado, já que teve que se registar previamente na aplicação. Assim, estes valores não correspondem a visualizações de página mas a pessoas concretas. Ao não sermos administradores do movimento, não temos forma de saber qual a proveniência dos visitantes nem quantas vezes cada um o fez.
No dia do evento, tínhamos as televisões à hora do almoço, entre as 13:00 e as 14:00 a fazer reportagem a partir do local. Aparentava ser um apático Sábado igual a tantos outros. O Chefe de Governo estava algures convencendo os seus pares europeus de que tudo estava bem.
Se na noite anterior, tinha pressentido que o movimento seria um sucesso, morando na Margem Sul, quando entrei na camioneta, fiquei aterrado: estava cheia de jovens, cada um na sua vida. Destes, os que se conheciam, afirmavam calmamente que iam para a manifestação. Apanhei o Metro e tive a sensação de que era hora de ponta, em que se ia trabalhar em família. Saí no Marquês de Pombal. Olhei à volta e comecei a descer a Av. da Liberdade. Estava cheio de gente. Ao contrário do habitual, o que saltava à vista era a falta de organização. E isso foi talvez o melhor. Foi genuíno. Encontrei alguns conhecidos. Encontrei gente que costuma ir a estas coisas. Mas encontrei também muita irreverência jovem, muita gente em família, um certo tipo de pessoas que aparentam instrução, talvez uma certa elite, gente que parecia um pouco deslocada deste ambiente, mas que esteve presente. Encontrei também anarcas, uma bandeira portuguesa com o verde trocado pelo azul monárquico, mini partidos de diferentes sabores, vi gente habituada a ir a estas coisas que estava estarrecida com o que estava a presenciar.
Foi um rugir de uma fera dirigido ao estado em que nos encontramos. Penso que todo o sistema levou por tabela. Não só o Governo, não só a política que é seguida, não só a direita, mas também a esquerda. Não nos estamos a conseguir entender de forma a levar o País para um melhor local.
Os partidos têm toda uma organização, muitos meios, muita gente que os leva ao colo. Mas com todo o tacticismo que tão bem conhecemos, esquecem-se o fim pelo qual supostamente lutam: o bem-estar do Povo.
Vejamos, nas últimas eleições presidenciais, no Facebook, Alegre teve uns 15.000 apoiantes, Cavaco 25.000 e Nobre 30.000 (se não são estes os valores, ponham os que quiserem). Tiveram 1 ano para se preparar. Tiveram meios, dinheiro. Dias depois das eleições, meia dúzia de jovens criam um evento no mesmo Facebook, e um mês e tal depois, sem meios, sem dinheiro, sem tempos de antena, conseguem apoio 65.000 pessoas, visitas de mais de 700.000, e ainda por cima reúnem em todo o País 300.000 pessoas.
No dia seguinte à manifestação, os quatro organizadores criaram um outro perfil, Fórum das Gerações - 12/3 e o Futuro. Em poucas horas chegaram aos milhares de apoiantes. Actualmente são 19.000. Têm um fórum, onde cada um debate o que entende por bem. Têm 196 tópicos. Passa-se o habitual: uns chegam sem ideias, outros com muitas, alguns com formação política, outros nem tanto, alguns com ingenuidade, outros pelo contrário. Encontram-se discursos para todas as vontades, crenças e interesses.
Para quem organizou isto, para quem se empenhou, para quem se manifestou, para quem ficou em casa a assistir pela TV, para quem teve que trabalhar, isto só agora começou. Que propostas alternativas? Que outro rumo? Como o conseguir? Que fazer para o obter? O que fazer agora com este poder que se tem nas mãos?
Existia todo um ambiente de triunfo da direita.
A noite de eleições confirma a esperada vitória... e ocorre no Coliseu do Porto um concerto de música de raízes portuguesas que emociona a jovem audiência com uma frase crua e simples, que numa voz suave proclama:
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
O vídeo aparece nessa mesma noite no youtube.
Uma semana depois, em Lisboa, as mesmas lágrimas, a mesma emoção.
Torna-se num hino para jovens e menos jovens.
Pouco depois, três ou quatro deles, criam um evento no Facebook agendando para 12 de Março (a pouco mais de um mês), apelando a uma manifestação na Av. da Liberdade e na Pç. da Batalha ao qual chamam Protesto da Geração à Rasca (GàR).
Aparecem outros movimentos tentando assenhorar-se da ideia. Observa-se uma tentativa de colonização mútua. Instala-se a confusão. É difícil entender o que se passa naquela plataforma electrónica em que se partilham fotografias com a família e vontades para amizades coloridas.
Numa mesma página, lado a lado, encontra-se todas as tonalidades ideológicas e religiosas, desde grupos que acreditam que somos descendentes de extra-terrestres, de grupos que acreditam que o fim está próximo, grupos que apelam à meditação como solução dos males do mundo, grupos exigem que os estrangeiros saiam de Portugal, gente que pede a salvação do Sporting, anarquistas, monárquicos, liberais, comunistas de vários sabores, nacionalistas, bloquistas, social-democratas, maçons, neo-liberais, católicos... apelos à revolução, apelos à anarquia, apelos á violência, apelos à paz, apelos à desobediência civil... manuais de como fazer um Cocktail Molotov, manuais de como fabricar toda a classe de armas, manuais de como sobreviver em caso de guerra, manuais de como reagir em caso de explosão nuclear (ainda não tinha havido Tsunami no Japão), manuais como reagir pacificamente a uma carga policial, manuais de auto-ajuda... toda a classe de livros, filmes, música e fotografia disponíveis online, uns interessantíssimos, outros nem tanto... muita criatividade espontânea.
Os órgãos de comunicação social começam a dar importância ao assunto. Ouvem-se os costumeiros especialistas que sempre sabem de tudo, vaticinando o fim do movimento, prognosticando a adesão de trinta, quarenta ou cinquenta mil pessoas, analisando os objectivos e razões últimas, afirmando que o movimento era instrumentalizado por todos e cada um dos movimentos e correntes de opinião.
No Facebook, no perfil da GàR, houve inicialmente alguma censura, em que os promotores tentavam desesperadamente controlar o que era exposto. Tiveram várias vezes que fazer declarações sobre o que o movimento era e não era. Houve a inteligência de definir claramente o que era pretendido, de tal forma que quem fosse de direita se sentiria deslocado em declarar o seu apoio.
A vinte e quatro horas do evento, ao mesmo tempo que Sócrates e Teixeira dos Santos apresentam o PEC IV, 58.000 pessoas afirmavam que iriam estar presentes, 45.000 pessoas declaravam que talvez o fizessem, 81.000 recusavam o convite e uma mole de 495.000 pessoas estavam indecisas; à meia-noite desse dia, eram 62.400 os que estariam presentes, 46.500 os indecisos, 85.500 os que negavam a sua presença e uns assombrosos 513.000 indecisos. Às zero horas e doze minutos, 707.532 pessoas diferentes tinham visitado esta página, sendo que houve um pico entre as 20:44 e as 20:50, com 543 novos visitantes a aceder, o que representa uma média de 1,5 novo perfil por segundo.
É importante clarificar que no Facebook, ao contrário de outras situações, quem visita determinada página está identificado, já que teve que se registar previamente na aplicação. Assim, estes valores não correspondem a visualizações de página mas a pessoas concretas. Ao não sermos administradores do movimento, não temos forma de saber qual a proveniência dos visitantes nem quantas vezes cada um o fez.
No dia do evento, tínhamos as televisões à hora do almoço, entre as 13:00 e as 14:00 a fazer reportagem a partir do local. Aparentava ser um apático Sábado igual a tantos outros. O Chefe de Governo estava algures convencendo os seus pares europeus de que tudo estava bem.
Se na noite anterior, tinha pressentido que o movimento seria um sucesso, morando na Margem Sul, quando entrei na camioneta, fiquei aterrado: estava cheia de jovens, cada um na sua vida. Destes, os que se conheciam, afirmavam calmamente que iam para a manifestação. Apanhei o Metro e tive a sensação de que era hora de ponta, em que se ia trabalhar em família. Saí no Marquês de Pombal. Olhei à volta e comecei a descer a Av. da Liberdade. Estava cheio de gente. Ao contrário do habitual, o que saltava à vista era a falta de organização. E isso foi talvez o melhor. Foi genuíno. Encontrei alguns conhecidos. Encontrei gente que costuma ir a estas coisas. Mas encontrei também muita irreverência jovem, muita gente em família, um certo tipo de pessoas que aparentam instrução, talvez uma certa elite, gente que parecia um pouco deslocada deste ambiente, mas que esteve presente. Encontrei também anarcas, uma bandeira portuguesa com o verde trocado pelo azul monárquico, mini partidos de diferentes sabores, vi gente habituada a ir a estas coisas que estava estarrecida com o que estava a presenciar.
Foi um rugir de uma fera dirigido ao estado em que nos encontramos. Penso que todo o sistema levou por tabela. Não só o Governo, não só a política que é seguida, não só a direita, mas também a esquerda. Não nos estamos a conseguir entender de forma a levar o País para um melhor local.
Os partidos têm toda uma organização, muitos meios, muita gente que os leva ao colo. Mas com todo o tacticismo que tão bem conhecemos, esquecem-se o fim pelo qual supostamente lutam: o bem-estar do Povo.
Vejamos, nas últimas eleições presidenciais, no Facebook, Alegre teve uns 15.000 apoiantes, Cavaco 25.000 e Nobre 30.000 (se não são estes os valores, ponham os que quiserem). Tiveram 1 ano para se preparar. Tiveram meios, dinheiro. Dias depois das eleições, meia dúzia de jovens criam um evento no mesmo Facebook, e um mês e tal depois, sem meios, sem dinheiro, sem tempos de antena, conseguem apoio 65.000 pessoas, visitas de mais de 700.000, e ainda por cima reúnem em todo o País 300.000 pessoas.
No dia seguinte à manifestação, os quatro organizadores criaram um outro perfil, Fórum das Gerações - 12/3 e o Futuro. Em poucas horas chegaram aos milhares de apoiantes. Actualmente são 19.000. Têm um fórum, onde cada um debate o que entende por bem. Têm 196 tópicos. Passa-se o habitual: uns chegam sem ideias, outros com muitas, alguns com formação política, outros nem tanto, alguns com ingenuidade, outros pelo contrário. Encontram-se discursos para todas as vontades, crenças e interesses.
Para quem organizou isto, para quem se empenhou, para quem se manifestou, para quem ficou em casa a assistir pela TV, para quem teve que trabalhar, isto só agora começou. Que propostas alternativas? Que outro rumo? Como o conseguir? Que fazer para o obter? O que fazer agora com este poder que se tem nas mãos?
quinta-feira, 24 de março de 2011
Espectacular
O espectáculo de ontem foi bonito.
Às 20:00 da noite, assistiu-se a uma linda sintonia de opiniões.
Em uníssono, com excepção do partido do Governo, todos na Assembleia da República se levantaram para rejeitar com toda a propriedade o PEC IV.
A Esquerda com o objectivo de que as suas moções fossem aprovadas, aceitou a votação em separado das alíneas de rejeição do PEC IV proposto pelo Governo daquelas em que propunha soluções alternativas. Não sei se essa imagem de unanimidade com a direita será aceite por quem vota à esquerda.
O CDS teve a clareza de fazer o mesmo que a esquerda, separando o chumbo do PEC IV das medidas alternativas. Afinal, já faz contas às cadeiras que vai ocupar.
O PSD foi mais objectivo: alínea única recusando o PEC IV.
Parece que daqueles que se encontravam na mesma hirta posição houve que alguém foi papado: uns vão para o poder e regalar-se, com a vantagem de que a situação estará cada vez pior e poderão sem dúvida nenhuma consumar o acto que há muito desejavam obtendo maior satisfação e prazer que alguma vez julgaram possível; os outros continuarão na mesma posição de excitação, em que masoquisticamente insistem em permanecer, aceitando de bom grado a posição dos golpes e chicotadas que os primeiros lhes desferirão cada vez com mais força. Haverá sangue. No fim, todos ficarão exaustos.
Nós, cá estaremos para lamber as feridas.
Às 20:00 da noite, assistiu-se a uma linda sintonia de opiniões.
Em uníssono, com excepção do partido do Governo, todos na Assembleia da República se levantaram para rejeitar com toda a propriedade o PEC IV.
A Esquerda com o objectivo de que as suas moções fossem aprovadas, aceitou a votação em separado das alíneas de rejeição do PEC IV proposto pelo Governo daquelas em que propunha soluções alternativas. Não sei se essa imagem de unanimidade com a direita será aceite por quem vota à esquerda.
O CDS teve a clareza de fazer o mesmo que a esquerda, separando o chumbo do PEC IV das medidas alternativas. Afinal, já faz contas às cadeiras que vai ocupar.
O PSD foi mais objectivo: alínea única recusando o PEC IV.
Parece que daqueles que se encontravam na mesma hirta posição houve que alguém foi papado: uns vão para o poder e regalar-se, com a vantagem de que a situação estará cada vez pior e poderão sem dúvida nenhuma consumar o acto que há muito desejavam obtendo maior satisfação e prazer que alguma vez julgaram possível; os outros continuarão na mesma posição de excitação, em que masoquisticamente insistem em permanecer, aceitando de bom grado a posição dos golpes e chicotadas que os primeiros lhes desferirão cada vez com mais força. Haverá sangue. No fim, todos ficarão exaustos.
Nós, cá estaremos para lamber as feridas.
As conjecturas à esquerda
Há algum tempo, Freitas do Amaral escreveu:
"Não me revejo em nenhum dos partidos políticos existentes em Portugal. O PSD e o CDS estão demasiado à direita. O PCP e o BE estão demasiado à esquerda e o PS tem excessiva sensibilidade para tratar dos grandes problemas económicos e muito pouca sensibilidade para tratar dos mais pobres e desfavorecidos em Portugal. Como cidadão, apesar de não ser a minha família política, vejo isto com muita apreensão, porque se os partidos de direita, por definição, favorecem o sistema capitalista e se o principal partido de esquerda faz o mesmo, ou ainda mais, onde está a esquerda democrática no nosso País? Deixou de estar e isso é mau para o equilíbrio da política portuguesa. Se a alternância que existe é entre o PSD e o PS , que ambos competem para saber qual consegue governar mais à direita, pergunto com que partidos é que as pessoas menos favorecidas podem identificar-se. Estamos a atirá-las para as mãos do PCP e do BE, que são partidos revolucionários. Ainda vamos aí?"
--------------------------------
Para melhor poder expor aquilo que entendo, vou definir duas conjecturas e um corolário:
«Conjectura do PS»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido, então o PS recusa.
«Conjectura da Esquerda»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido, o PS aceita e então cada uma das esquerdas, e portanto o seu conjunto, aumentará de votação (porque muitos dos que actualmente se abstêm identificar-se-iam com essa solução).
«Corolário»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido e o PS recusa, então a esquerda à esquerda do PS ficará com a maioria dos votos daqueles que situando-se à esquerda da esquerda do PS se abstêm.
--------------------------------
Penso que a análise de Fretas do Amaral é bastante boa. Seria interessante entender porque é que o PS está nessa situação. Pessoalmente penso que perdeu o rumo. Tem um discurso de uma esquerda em sentido lato, mas a sua prática é de direita. É esquizofrénica. Vive num permanente relativismo político: algures entre o que a esquerda e a direita do momento se apresentarem. Mas isso é o que o PS (os ou diferentes PSs) vão fazendo e pensando.
Como se depreende do discurso de Freitas, há um vazio político à esquerda. Não podia estar mais correcto. Ninguém o ocupa. O PS abandonou-o e nem o BE nem o PCP o tomam como seu. Não sei se será por pureza ideológica. Apesar de haverem variações quanto à tonalidade, o PCP tem um espaço político mais ou menos bem definido no espectro. O BE, penso não ser a mesma coisa: nasceu como uma federação de partidos à esquerda, cada um com a sua ideologia mais ou menos bem definida, que se assumiu como solução de convergência.
Num tal quadro, deveria de haver inteligência política à esquerda do PS para o puxar para o seu lado. Como já alguém disse, não é bom depender das acções dos outros. Assim, deveríamos (neste caso, considero o nós como aqueles que estão à esquerda da esquerda do PS) declarar que, tendo uma opinião bem diferente daquela que o PS tem sobre a forma desastrosa com que tem dirigido o país, estaria disponível para chegar a um entendimento, com um programa bem definido, tendo em vista mudar o rumo que o país leva. Esta seria uma forma de ocupar o tal espaço político, que permitiria traduzir-se em votos (temos aqui a «Conjectura da Esquerda»). Além disso, apresentada a proposta, obrigaria o PS a definir-se. Neste momento, a esquerda assume que apresentada uma proposta formal, o PS recusaria (temos aqui a «Conjectura do PS»). Mas nenhuma destas conjecturas está demonstrada porque nunca aconteceu. E nunca aconteceu por a esquerda à esquerda do PS nunca ter verificado na pratica aquilo que assume (neste caso, a «Conjectura do PS»). Falta talvez um pouco de método cientifico. É que na actualidade, a esquerda à esquerda do PS, por assumir algo que nunca foi verificado, poderá estar a ser penalizada por isso (é essa a minha convicção) nas urnas: todos aqueles eleitores do espaço por ocupar sentir-se-ão órfãos e não votam.
Não se trata de diabolizar ninguém: nem este PS do Sócrates (porque é o que temos), nem a esquerda à esquerda deste, porque também é a que temos.
Mas, como é óbvio, e como qualquer conjectura, ambas as conjecturas enunciadas carecem de demonstração. Convém não esquecer que há gente concreta que sofre e sofrerá ainda mais devido a estes pressupostos.
"Não me revejo em nenhum dos partidos políticos existentes em Portugal. O PSD e o CDS estão demasiado à direita. O PCP e o BE estão demasiado à esquerda e o PS tem excessiva sensibilidade para tratar dos grandes problemas económicos e muito pouca sensibilidade para tratar dos mais pobres e desfavorecidos em Portugal. Como cidadão, apesar de não ser a minha família política, vejo isto com muita apreensão, porque se os partidos de direita, por definição, favorecem o sistema capitalista e se o principal partido de esquerda faz o mesmo, ou ainda mais, onde está a esquerda democrática no nosso País? Deixou de estar e isso é mau para o equilíbrio da política portuguesa. Se a alternância que existe é entre o PSD e o PS , que ambos competem para saber qual consegue governar mais à direita, pergunto com que partidos é que as pessoas menos favorecidas podem identificar-se. Estamos a atirá-las para as mãos do PCP e do BE, que são partidos revolucionários. Ainda vamos aí?"
--------------------------------
Para melhor poder expor aquilo que entendo, vou definir duas conjecturas e um corolário:
«Conjectura do PS»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido, então o PS recusa.
«Conjectura da Esquerda»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido, o PS aceita e então cada uma das esquerdas, e portanto o seu conjunto, aumentará de votação (porque muitos dos que actualmente se abstêm identificar-se-iam com essa solução).
«Corolário»: se a esquerda à esquerda do PS apresenta uma proposta formal de entendimento, com um programa bem definido e o PS recusa, então a esquerda à esquerda do PS ficará com a maioria dos votos daqueles que situando-se à esquerda da esquerda do PS se abstêm.
--------------------------------
Penso que a análise de Fretas do Amaral é bastante boa. Seria interessante entender porque é que o PS está nessa situação. Pessoalmente penso que perdeu o rumo. Tem um discurso de uma esquerda em sentido lato, mas a sua prática é de direita. É esquizofrénica. Vive num permanente relativismo político: algures entre o que a esquerda e a direita do momento se apresentarem. Mas isso é o que o PS (os ou diferentes PSs) vão fazendo e pensando.
Como se depreende do discurso de Freitas, há um vazio político à esquerda. Não podia estar mais correcto. Ninguém o ocupa. O PS abandonou-o e nem o BE nem o PCP o tomam como seu. Não sei se será por pureza ideológica. Apesar de haverem variações quanto à tonalidade, o PCP tem um espaço político mais ou menos bem definido no espectro. O BE, penso não ser a mesma coisa: nasceu como uma federação de partidos à esquerda, cada um com a sua ideologia mais ou menos bem definida, que se assumiu como solução de convergência.
Num tal quadro, deveria de haver inteligência política à esquerda do PS para o puxar para o seu lado. Como já alguém disse, não é bom depender das acções dos outros. Assim, deveríamos (neste caso, considero o nós como aqueles que estão à esquerda da esquerda do PS) declarar que, tendo uma opinião bem diferente daquela que o PS tem sobre a forma desastrosa com que tem dirigido o país, estaria disponível para chegar a um entendimento, com um programa bem definido, tendo em vista mudar o rumo que o país leva. Esta seria uma forma de ocupar o tal espaço político, que permitiria traduzir-se em votos (temos aqui a «Conjectura da Esquerda»). Além disso, apresentada a proposta, obrigaria o PS a definir-se. Neste momento, a esquerda assume que apresentada uma proposta formal, o PS recusaria (temos aqui a «Conjectura do PS»). Mas nenhuma destas conjecturas está demonstrada porque nunca aconteceu. E nunca aconteceu por a esquerda à esquerda do PS nunca ter verificado na pratica aquilo que assume (neste caso, a «Conjectura do PS»). Falta talvez um pouco de método cientifico. É que na actualidade, a esquerda à esquerda do PS, por assumir algo que nunca foi verificado, poderá estar a ser penalizada por isso (é essa a minha convicção) nas urnas: todos aqueles eleitores do espaço por ocupar sentir-se-ão órfãos e não votam.
Não se trata de diabolizar ninguém: nem este PS do Sócrates (porque é o que temos), nem a esquerda à esquerda deste, porque também é a que temos.
Mas, como é óbvio, e como qualquer conjectura, ambas as conjecturas enunciadas carecem de demonstração. Convém não esquecer que há gente concreta que sofre e sofrerá ainda mais devido a estes pressupostos.
A dívida pública europeia: divirtam-se
Para alterar as condições de pesquisa clicar aqui.
Vê-se claramente que o problema não é a dívida pública portuguesa...
terça-feira, 22 de março de 2011
Para memória futura
Afirma claramente o que pretende fazer. Sem papas na língua. A Democracia tem destas coisas. Por vezes o Povo elege alguém que não defende aquilo que é do seu interesse. Veja-se o exemplo de Hitler, que foi eleito pelo Povo alemão... Curiosamente, esse mesmo Povo alemão em nome do qual estão a ser impostas as medidas de austeridade na periferia europeia.
Sobre as agências de rating
Para ser avaliada pelas agências de rating, cada entidade tem que pagar a cada uma delas. Trata-se de um serviço pago por quem pretende que o avaliem.
Há pouco tempo, o BES rescindiu o contracto com a Fitch, tendo tido o cuidado de afirmar que o fazia porque não considerava correcta a avaliação que esta fazia do banco em questão. Viu-se que não lhe aconteceu nada.
Talvez fosse de considerar a hipótese de Portugal fazer o mesmo.
Há pouco tempo, o BES rescindiu o contracto com a Fitch, tendo tido o cuidado de afirmar que o fazia porque não considerava correcta a avaliação que esta fazia do banco em questão. Viu-se que não lhe aconteceu nada.
Talvez fosse de considerar a hipótese de Portugal fazer o mesmo.
domingo, 20 de março de 2011
quinta-feira, 17 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
Vale a pena ver esta série da BBC
The Trap - Part 1: Fuck You Buddy
The Trap - Part 2: The Lonely Robot
The Trap - Part 3: We Will Force You To Be Free
The Trap - Part 2: The Lonely Robot
The Trap - Part 3: We Will Force You To Be Free
De facto, outro mundo
No Japão, no meio daquele caos, alguém está à procura da sua família. Na sua busca, encontra um camião cheiro de comida em conserva.
Que fez com o que encontrou?
Obviamente, entregou o que encontrou ao abrigo onde estavam alojada a população daquela cidade. Não ganhou absolutamente nada com aquilo a não ser paz de espírito.
Que fez com o que encontrou?
Obviamente, entregou o que encontrou ao abrigo onde estavam alojada a população daquela cidade. Não ganhou absolutamente nada com aquilo a não ser paz de espírito.
terça-feira, 15 de março de 2011
Uma achega
A quantidade de seres humanos é finita.
A quantidade de bens e serviços necessários para a sua vida é finita.
A quantidade de trabalho necessário para a realização destes bens e serviços é finita.
Por outro lado, a produtividade tem vindo permanentemente a aumentar.
O que implica que a quantidade total de trabalho para a produção destes bens e serviços é cada vez menor.
O trabalho é portanto um recurso escasso e como tal deve ser divido por todos.
Significa que cada um deve trabalhar menos tempo, sem que isso implique uma diminuição da remuneração.
Está implícito aceitar que todos têm o direito e o dever de participar na produção de bens necessários e úteis para a vida do conjunto.
Se virmos bem, não faz sentido estarmos numa sociedade em que há muita gente parada com vontade de fazer algo e muita coisa que necessita ser feita: campos por lavrar, casas para arranjar, idosos para cuidar...
A questão que se coloca é como criar uma economia em que tal se faça. Questão que se resolverá pela correcta redistribuição da riqueza criada pelo trabalho, impossibilitando a acumulação de excessos, que se consegue dividindo os lucros do trabalho por quem o produz, da forma que estes o decidam.
Se virmos bem, talvez estejamos a confundir o objectivo da sociedade humana.
A quantidade de bens e serviços necessários para a sua vida é finita.
A quantidade de trabalho necessário para a realização destes bens e serviços é finita.
Por outro lado, a produtividade tem vindo permanentemente a aumentar.
O que implica que a quantidade total de trabalho para a produção destes bens e serviços é cada vez menor.
O trabalho é portanto um recurso escasso e como tal deve ser divido por todos.
Significa que cada um deve trabalhar menos tempo, sem que isso implique uma diminuição da remuneração.
Está implícito aceitar que todos têm o direito e o dever de participar na produção de bens necessários e úteis para a vida do conjunto.
Se virmos bem, não faz sentido estarmos numa sociedade em que há muita gente parada com vontade de fazer algo e muita coisa que necessita ser feita: campos por lavrar, casas para arranjar, idosos para cuidar...
A questão que se coloca é como criar uma economia em que tal se faça. Questão que se resolverá pela correcta redistribuição da riqueza criada pelo trabalho, impossibilitando a acumulação de excessos, que se consegue dividindo os lucros do trabalho por quem o produz, da forma que estes o decidam.
Se virmos bem, talvez estejamos a confundir o objectivo da sociedade humana.
segunda-feira, 14 de março de 2011
Para quê fazer censos?
Provavelmente para demonstrar que tudo está bem, e que não existe qualquer razão para exigir mudanças.
Provavelmente para nos amansar.
Provavelmente para aceitarmos a compressão a que estamos a ser submetidos.
Provavelmente para nos convencermos de que é inevitável o que está a acontecer.
Sim, galinha
Ela consegue. Consegue submeter a seus pés a várias dezenas de povos. Talvez porque tem medo de perder o efémero poleiro que tem neste momento. De tão fugaz que é a sua passagem por esta vida, talvez o conseguisse fazer sem imprimir sofrimento noutros que nem conhece. Pode ser que um dia as coisas comecem a correr pior e nessa altura poderá ser demasiado tarde.
Mas ela consegue.
Yes, she can!
Yes, chicken (que aportuguesando soa a ies, chiquen)!
Sim, galinha...
Mas ela consegue.
Yes, she can!
Yes, chicken (que aportuguesando soa a ies, chiquen)!
Sim, galinha...
Falta qualquer coisa
Ao ver as imagens que passam sobre o que aconteceu no Japão (descobri que tenho um canal japonês falado em inglês), primeiro terramoto devastador, depois maremoto, depois risco de explosão nuclear, depois vulcão, vê-se pessoas a ajudarem, vê-se militares a ajudar, vê-se muita calma entre as pessoas, mas quando me recordo das imagens após o Katrina, sinto sempre que falta qualquer coisa: gente a pilhar as lojas, gente armada para defender seja o que for, militares armados até aos dentes com o dedo no gatilho. Sente-se que, sendo ambas capitalistas, estas duas sociedades têm algo de radicalmente diferente.
domingo, 13 de março de 2011
sábado, 12 de março de 2011
GàR
Em Maio de 74 não sei porque era um miúdo e além disso morava na Bélgica.
Agora, hoje em Lisboa esteve bestial. Ao contrário do habitual, o que saltava à vista era a falta de organização. E isso foi talvez o melhor. Foi genuíno. Encontrou-se alguma gente conhecida. Encontrou-se gente que costuma ir a estas coisas. Mas encontrou-se também muita irreverência jovem, muita gente em família, um certo tipo de pessoas que aparentam instrução, talvez uma certa elite, gente que parecia um pouco deslocada deste ambiente, mas que esteve presente. Encontrou-se também anarcas, uma bandeira portuguesa com o verde trocado pelo azul monárquico, mini partidos de diferentes sabores, ouvia-se gente habituada a ir a estas coisas que estava estarrecida com o que estava a ver.
Foi um rugir de uma fera dirigido ao estado em que nos encontramos. Penso que todo o sistema levou por tabela. Não só o Governo, não só a política que é seguida, não só a direita, mas também a esquerda. Não nos estamos a conseguir entender de forma a conseguir levar o País para um melhor local.
Os partidos têm toda uma organização, muitos meios, muita gente que os leva ao colo. Mas com todo o tacticismo que tão bem conhecemos, esquecem-se qual o fim pelo qual supostamente lutam: o bem estar do Povo.
Vejamos, nas últimas eleições presidenciais, no Facebook, Alegre teve uns 15.000 apoiantes, Cavaco 25.000 e Nobre 30.000 (se não são estes os valores, ponham os que quiserem). Tiveram 1 ano para se preparar. Tiveram meios, dinheiro. Dias depois das eleições, meia dúzia de jovens criam um evento no mesmo Facebook, e dois meses de pois, sem meios, sem dinheiro, sem tempos de antena, conseguem apoio 65.000 pessoas, visitas de mais de 700.000 (pessoas, não visualizações de página), e ainda por cima reúnem em todo o País 300.000 pessoas.
Para quem organizou isto, para quem se empenhou, para quem se manifestou, para quem ficou em casa a assistir pela TV, para quem teve que trabalhar, isto só agora começou. Que propostas alternativas? Que outro rumo? Como o conseguir? Que fazer para o obter? O que fazer agora com este poder que se tem nas mãos?
Agora, hoje em Lisboa esteve bestial. Ao contrário do habitual, o que saltava à vista era a falta de organização. E isso foi talvez o melhor. Foi genuíno. Encontrou-se alguma gente conhecida. Encontrou-se gente que costuma ir a estas coisas. Mas encontrou-se também muita irreverência jovem, muita gente em família, um certo tipo de pessoas que aparentam instrução, talvez uma certa elite, gente que parecia um pouco deslocada deste ambiente, mas que esteve presente. Encontrou-se também anarcas, uma bandeira portuguesa com o verde trocado pelo azul monárquico, mini partidos de diferentes sabores, ouvia-se gente habituada a ir a estas coisas que estava estarrecida com o que estava a ver.
Foi um rugir de uma fera dirigido ao estado em que nos encontramos. Penso que todo o sistema levou por tabela. Não só o Governo, não só a política que é seguida, não só a direita, mas também a esquerda. Não nos estamos a conseguir entender de forma a conseguir levar o País para um melhor local.
Os partidos têm toda uma organização, muitos meios, muita gente que os leva ao colo. Mas com todo o tacticismo que tão bem conhecemos, esquecem-se qual o fim pelo qual supostamente lutam: o bem estar do Povo.
Vejamos, nas últimas eleições presidenciais, no Facebook, Alegre teve uns 15.000 apoiantes, Cavaco 25.000 e Nobre 30.000 (se não são estes os valores, ponham os que quiserem). Tiveram 1 ano para se preparar. Tiveram meios, dinheiro. Dias depois das eleições, meia dúzia de jovens criam um evento no mesmo Facebook, e dois meses de pois, sem meios, sem dinheiro, sem tempos de antena, conseguem apoio 65.000 pessoas, visitas de mais de 700.000 (pessoas, não visualizações de página), e ainda por cima reúnem em todo o País 300.000 pessoas.
Para quem organizou isto, para quem se empenhou, para quem se manifestou, para quem ficou em casa a assistir pela TV, para quem teve que trabalhar, isto só agora começou. Que propostas alternativas? Que outro rumo? Como o conseguir? Que fazer para o obter? O que fazer agora com este poder que se tem nas mãos?
sexta-feira, 11 de março de 2011
Geração à Rasca
Declaro que vou. Estarei presente, não só para observar este movimento no local mas também para contar como mais um.
Porquê?
Mesclando uma série de ideias de outros bons amigos com outras de minha lavra, penso que cabe perguntar se na actualidade faz sentido ver a classe operária como a vanguarda.
Há 100 anos atrás, a Revolução era feita pela parte dos assalariados que era mais evoluída tecnicamente. Dominavam as fábricas onde eram necessários exércitos para qualquer actividade produtiva. Cada um dos operários dominava a técnica existente mais evoluída. Em particular, os tipógrafos dominavam a técnica que permitia a difusão das ideias.
Na actualidade, com as deslocalizações, as fábricas são a excepção, e as que existem, trabalham com meia dúzia de pessoas, porque estão cada dia mais automatizadas. Ou seja, não temos operários, logo não temos vanguarda. Será?
Cabe questionar quem poderá cumprir com essa função.
Curiosamente, no mundo árabe em revolução, com uma população cada vez mais instruída, por mais que procure, não encontro nem a classe operária nem o partido de todos os trabalhadores. Mas a Revolução faz-se.
Na América Latina, cada vez com mais quadros superiores, a classe operária também é exígua, os partidos comunistas estão arredados do poder, mas a Revolução faz-se.
Nem na Venezuela é o partido comunista que lidera o movimento. Mas a Revolução faz-se.
Aquilo que se observa, é que tal acontece tendo algo em comum: alguém não aguentou mais a perda de poder de compra, não para comprar BMWs, mas para comprar algo muito mais básico: comida. Mesmo que isso se manifeste com a exigência da saída deste ou daquele do poder, com a exigência de mais democracia, o pano de fundo é sempre o mesmo: populações mais instruídas, mas com menos poder de compra.
No nosso caso, o movimento em questão tem também em comum exactamente as mesmas condições: mais instrução, mas sem poder de compra para serem independentes (basta recordar da canção dos Deolinda...).
Dir-se-á que o movimento não tem rumo, que é contra tudo, sem propor nenhuma alternativa diferente. Que a direita vai acabar por aproveitar o movimento. De facto assim será se a esquerda ficar quieta neste activismo de sofá.
Amanhã haverá muito movimento. Muita gente falará. Muita gente gritará. Talvez outras acções mais drásticas.
Mas só depois das manifestações terminarem (serão pelo país inteiro) é que de facto penso que começará a luta. Haverá quem peça alternativas. Haverá quem peça a demissão do Governo. Os manifestantes serão confrontados por alguns com a «inevitabilidade» da situação, que não há solução, que o dinheiro não chega... obrigando aos manifestantes a apresentar alternativas.
E aqui é que será importante a presença de gente com pensamento político, que mostre soluções «out of the box», que permitam criar nas mentes dos manifestantes essas mesmas soluções.
Como já alguém disse:
Precários de todos os países: UNI-VOS!
Porquê?
Mesclando uma série de ideias de outros bons amigos com outras de minha lavra, penso que cabe perguntar se na actualidade faz sentido ver a classe operária como a vanguarda.
Há 100 anos atrás, a Revolução era feita pela parte dos assalariados que era mais evoluída tecnicamente. Dominavam as fábricas onde eram necessários exércitos para qualquer actividade produtiva. Cada um dos operários dominava a técnica existente mais evoluída. Em particular, os tipógrafos dominavam a técnica que permitia a difusão das ideias.
Na actualidade, com as deslocalizações, as fábricas são a excepção, e as que existem, trabalham com meia dúzia de pessoas, porque estão cada dia mais automatizadas. Ou seja, não temos operários, logo não temos vanguarda. Será?
Cabe questionar quem poderá cumprir com essa função.
Curiosamente, no mundo árabe em revolução, com uma população cada vez mais instruída, por mais que procure, não encontro nem a classe operária nem o partido de todos os trabalhadores. Mas a Revolução faz-se.
Na América Latina, cada vez com mais quadros superiores, a classe operária também é exígua, os partidos comunistas estão arredados do poder, mas a Revolução faz-se.
Nem na Venezuela é o partido comunista que lidera o movimento. Mas a Revolução faz-se.
Aquilo que se observa, é que tal acontece tendo algo em comum: alguém não aguentou mais a perda de poder de compra, não para comprar BMWs, mas para comprar algo muito mais básico: comida. Mesmo que isso se manifeste com a exigência da saída deste ou daquele do poder, com a exigência de mais democracia, o pano de fundo é sempre o mesmo: populações mais instruídas, mas com menos poder de compra.
No nosso caso, o movimento em questão tem também em comum exactamente as mesmas condições: mais instrução, mas sem poder de compra para serem independentes (basta recordar da canção dos Deolinda...).
Dir-se-á que o movimento não tem rumo, que é contra tudo, sem propor nenhuma alternativa diferente. Que a direita vai acabar por aproveitar o movimento. De facto assim será se a esquerda ficar quieta neste activismo de sofá.
Amanhã haverá muito movimento. Muita gente falará. Muita gente gritará. Talvez outras acções mais drásticas.
Mas só depois das manifestações terminarem (serão pelo país inteiro) é que de facto penso que começará a luta. Haverá quem peça alternativas. Haverá quem peça a demissão do Governo. Os manifestantes serão confrontados por alguns com a «inevitabilidade» da situação, que não há solução, que o dinheiro não chega... obrigando aos manifestantes a apresentar alternativas.
E aqui é que será importante a presença de gente com pensamento político, que mostre soluções «out of the box», que permitam criar nas mentes dos manifestantes essas mesmas soluções.
Como já alguém disse:
Precários de todos os países: UNI-VOS!
Subscrever:
Mensagens (Atom)