sexta-feira, 11 de março de 2011

Geração à Rasca

Declaro que vou. Estarei presente, não só para observar este movimento no local mas também para contar como mais um.

Porquê?
Mesclando uma série de ideias de outros bons amigos com outras de minha lavra, penso que cabe perguntar se na actualidade faz sentido ver a classe operária como a vanguarda.
Há 100 anos atrás, a Revolução era feita pela parte dos assalariados que era mais evoluída tecnicamente. Dominavam as fábricas onde eram necessários exércitos para qualquer actividade produtiva. Cada um dos operários dominava a técnica existente mais evoluída. Em particular, os tipógrafos dominavam a técnica que permitia a difusão das ideias.
Na actualidade, com as deslocalizações, as fábricas são a excepção, e as que existem, trabalham com meia dúzia de pessoas, porque estão cada dia mais automatizadas. Ou seja, não temos operários, logo não temos vanguarda. Será?
Cabe questionar quem poderá cumprir com essa função.
Curiosamente, no mundo árabe em revolução, com uma população cada vez mais instruída, por mais que procure, não encontro nem a classe operária nem o partido de todos os trabalhadores. Mas a Revolução faz-se.
Na América Latina, cada vez com mais quadros superiores, a classe operária também é exígua, os partidos comunistas estão arredados do poder, mas a Revolução faz-se.
Nem na Venezuela é o partido comunista que lidera o movimento. Mas a Revolução faz-se.
Aquilo que se observa, é que tal acontece tendo algo em comum: alguém não aguentou mais a perda de poder de compra, não para comprar BMWs, mas para comprar algo muito mais básico: comida. Mesmo que isso se manifeste com a exigência da saída deste ou daquele do poder, com a exigência de mais democracia, o pano de fundo é sempre o mesmo: populações mais instruídas, mas com menos poder de compra.
No nosso caso, o movimento em questão tem também em comum exactamente as mesmas condições: mais instrução, mas sem poder de compra para serem independentes (basta recordar da canção dos Deolinda...).
Dir-se-á que o movimento não tem rumo, que é contra tudo, sem propor nenhuma alternativa diferente. Que a direita vai acabar por aproveitar o movimento. De facto assim será se a esquerda ficar quieta neste activismo de sofá.
Amanhã haverá muito movimento. Muita gente falará. Muita gente gritará. Talvez outras acções mais drásticas.
Mas só depois das manifestações terminarem (serão pelo país inteiro) é que de facto penso que começará a luta. Haverá quem peça alternativas. Haverá quem peça a demissão do Governo. Os manifestantes serão confrontados por alguns com a «inevitabilidade» da situação, que não há solução, que o dinheiro não chega... obrigando aos manifestantes a apresentar alternativas.
E aqui é que será importante a presença de gente com pensamento político, que mostre soluções «out of the box», que permitam criar nas mentes dos manifestantes essas mesmas soluções.

Como já alguém disse:

Precários de todos os países: UNI-VOS!

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