sábado, 22 de dezembro de 2012

A minha interpretação

Devido à queda tendencial da margem de lucro, o capital já não consegue extrair renda das actividades produtivas e por isso está a tentar invadir aquilo que são as funções do estado no esforço de continuar a obter uma renda. Mais, estou convencido que depois de começarem a obter rendas dos sistemas de pensão, escolas, universidades e saúde, dentro de algum tempo tentarão fazer o mesmo com o sistema de segurança, tentando privatizar o exército, a polícia e a justiça. Acontece que não me parece que as esquerdas tenham bem claro o que está em curso. Porque se assim fosse, diriam isso claramente. Para a direita, o importante não é demonstrar se privado é melhor que público. É levantar a questão para que assim se aceite as privatizações. Além disso, com as privatizações, possibilita-se que quem normalmente usa os sistemas privados poupe deixando de pagar também para o estado.
Tem que ser claro que o capital não vai investir em actividades produtivas simplesmente porque sabe que não consegue extrair uma renda destas actividades. Essa é a razão da necessidade da diminuição do preço do trabalho. É que os capitalistas periféricos têm que acreditar que ainda é possível de alguma forma voltar a obter uma renda das actividades produtivas realizadas na periferia, caso contrário, sabem que acabarão por perecer, pois o capital acabaria por passar das suas mãos para os seus homólogos do centro. Por esta razão, na minha opinião, os capitalistas portugueses estão de facto desesperados. E por isso querem a aplicação do memorando o mais rapidamente possível. Por isso são submissos aos capitalistas de outras paragens. É que sabem que não têm na actualidade qualquer possibilidade de concorrer num mercado aberto. Ou seja, estamos a assistir a uma luta entre capitalistas do centro da Europa e capitalistas da periferia pelo mercado periférico. Os do centro exigem a destruição da capacidade produtiva da periferia para que dessa forma consigam aumentar a sua e assim continuar a baixar os preços unitários daquilo que produzem, na procura da manutenção da sua renda. Os capitalistas da periferia (os de cá) aspiram que ao ser destruída a sua capacidade de produção, isso ocorra o mais rapidamente possível, para que assim, com o preço do trabalho cada vez mais próximo do zero, consigam na maior brevidade possível voltar a usar a força de trabalho disponível ao preço da uva mijona. O que estão a produzir é a simulação dos efeitos de uma guerra: destruição da capacidade produtiva dos beligerantes para que com os armistícios o aumento da procura torne necessário voltar a investir na produção pois os produtos e serviços serão uma necessidade de todos os que por cá ainda estiverem. Só que como não estamos em guerra, outros que estejam neste mesmo mercado europeu satisfazem rapidamente as necessidades da periferia. É a vantagem de haver um sistema de comunicação avançado: o mercado é mais facilmente invadido. Para os capitalistas periféricos, ser muito, mas rápido é a única possibilidade que têm para poder usar a força de trabalho à sua disposição. Por isso, insistem que seja rápido, muito rápido, e por isso não querem qualquer extensão de prazos.

Crise Grega explicado


Flower duet

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

65 vs 102

Estando desempregado e a aproximar-me do momento em que não terei subsídio de desemprego, deixarei de conseguir pagar a casa. Pensando, lendo, magicando, ocorreu-me ver se a Constituição da República Portuguesa tinha algo sobre o direito à habitação. Encontro:
Artigo 65.º
Habitação e urbanismo
1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.
2. Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado:
a) Programar e executar uma política de habitação inserida em planos de ordenamento geral do território e apoiada em planos de urbanização que garantam a existência de uma rede adequada de transportes e de equipamento social;
b) Promover, em colaboração com as regiões autónomas e com as autarquias locais, a construção de habitações económicas e sociais;
c) Estimular a construção privada, com subordinação ao interesse geral, e o acesso à habitação própria ou arrendada;
d) Incentivar e apoiar as iniciativas das comunidades locais e das populações, tendentes a resolver os respectivos problemas habitacionais e a fomentar a criação de cooperativas de habitação e a autoconstrução.
3. O Estado adoptará uma política tendente a estabelecer um sistema de renda compatível com o rendimento familiar e de acesso à habitação própria.
4. O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais definem as regras de ocupação, uso e transformação dos solos urbanos, designadamente através de instrumentos de planeamento, no quadro das leis respeitantes ao ordenamento do território e ao urbanismo, e procedem às expropriações dos solos que se revelem necessárias à satisfação de fins de utilidade pública urbanística.
5. É garantida a participação dos interessados na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico e de quaisquer outros instrumentos de planeamento físico do território.
Então, ocorreu-me procurar algo sobre bancos para justificar qualquer acção. Curiosamente, o único que encontro é:
Artigo 102.º
Banco de Portugal
O Banco de Portugal é o banco central nacional e exerce as suas funções nos termos da lei e das normas internacionais a que o Estado Português se vincule. 
Curioso... então, quer dizer que a lei fundamental deste país não tem uma única palavra sobre bancos privados... mas arranjaram forma de os salvar... hummmm... poiissss... talvez tenha acabado de arranjar uma forma de não ser desalojado quando deixar de pagar a prestação da casa.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os desempregados não são um problema, são a solução

O que vai ser dito em seguida não implica a aceitação do sistema capitalista. Simplesmente procura que as vítimas deste continuem a viver no mesmo, como aliás o faz quem está actualmente empregado ou reformado.

Se os desempregados forem empregues na produção de substituição de importações, os problemas do país terminaram. Basta que 1,4 milhões (os actuais desempregados), mais de 24% da população activa, comece a trabalhar na produção da substituição de importações para que os problemas de défice da balança de pagamentos e de sustentabilidade do país fiquem resolvidos, ou pelo menos minimizados. Parece óbvio. Porque não se faz? Simplesmente porque não é rentável, ou seja, quem investe capital não consegue obter lucro com a venda dos bens e serviços produzidos. Não excluindo outras possibilidades, nomeadamente a imposição de taxas aduaneiras a produtos importados, ou inclusivamente o bloqueio à importação, há outras soluções.

O preço de um produto ou serviço é decomposto em duas grandes componentes: o trabalho (o que se paga aos trabalhadores na produção do bem ou serviço) e o capital (empréstimos e juros, lucros, rendas, materiais necessários, serviços, impostos...).

O que o actual governo (em rigor, os governos da UE) procura é diminuir o preço do trabalho, com as consequências que se sabe, e por isso promove o desemprego para que os trabalhadores lutem entre si pelo bem escasso em que tornou o trabalho necessário. É por isso que contrai a economia, pois dessa forma, aumenta o desemprego e por isso obriga a quem trabalha a aceitar cada vez menos pelo uso da sua força de trabalho. Por isso se diz que se induz uma desvalorização competitiva entre os trabalhadores. Este é o caminho que convém a quem tem capital.

Em alternativa ao que o governo propõe e para tornar os bens e serviços competitivos num mercado aberto (esteja-se ou não de acordo com essa realidade) pode-se diminuir antes o peso da componente capital. Nomeadamente na eliminação das parcelas empréstimos, juros e distribuição de lucros a accionistas. Como?

Recordemos que em capitalismo aqueles poucos que vão acumulando o capital defendem que assim seja para que dessa forma o capital que se acumulou seja investido em actividades produtivas que por sua vez gerem mais lucros, sendo que para que esse processo de acumulação ocorra necessitarão de contratar alguém que com a sua força de trabalho produza os bens e serviços a serem vendidos e dessa forma resulte a sua cobiçada margem de lucro. Acontece que na actualidade esse processo já não se verifica, pois, por alguma razão (no âmbito deste texto, é irrelevante a razão pela qual isto se verifica), quem tem capital não o está a investir em quaisquer actividades produtivas, o que invalida a justificação de acumulação de capital nas mãos de uns poucos. Ou seja, ao não se cumprir a justificação para a detenção do capital, deve ser o Estado a garantir que o sistema volta a funcionar, mesmo que para isso se tenha que expropriar os detentores de capital.

Recordemos que alguém decidiu que quem tinha capital no BPN não o podia perder. Apesar de esse capital não estar a ser usado em actividades produtivas e por isso não estar a ser usado para manter postos de trabalho em actividades produtivas. E assim o estado retirou de quem trabalha vários milhares de milhões de euros para que quem detinha capital o não perdesse. Pela mesma razão, o Estado pode perfeitamente ir buscar a quem detém capital o que for necessário para reiniciar actividades produtivas que são pelo menos tão necessárias quanto o capital que se poderia ter perdido com a falência do BPN.

Além disso, quem detém capital coloca este offshore sem qualquer problema, evitando dessa forma pagar impostos. Perversamente, após evitar pagar impostos, especula com dívida pública, ou seja, em vez de ser tributado, obtém lucro.

Portanto, capital há. Só tem que se ter vontade de o ir buscar.

Qual a caracterização das empresas a serem criadas? A resposta está na Constituição da República Portuguesa: cooperativas. Empresas em que sejam os próprios trabalhadores a decidir o que fazer, como fazer, que fazer com os excedentes realizados, como os distribuir. Empresas onde sejam todos os trabalhadores a decidir o que fazer com a empresa não se deslocalizam porque isso implicaria que alguém ficasse sem trabalho. Empresas em que sejam os próprios trabalhadores a decidir colectivamente o que fazer não terão grande dispersão salarial.

O estado deve contratualizar com estas empresas a compra dos bens e serviços produzidos a preços abaixo do mercado, para que assim se garanta a viabilidade, sendo desejável que estas empresas procurem comprador desses bens. Por outro lado, quando o estado compra abaixo do preço de mercado poderá sempre vender posteriormente.

Qual o critério de decisão para que uma empresa receba o apoio e qual a prioridade quanto ao investimento? Agregue-se a totalidade de bens e serviços importados em relação ao tipo e organize-se em ordem descendente em relação ao volume de dinheiro.

Deve ficar claro que estas empresas, por não pagarem nem empréstimos, nem juros (pois o capital foi dado na totalidade a fundo perdido), nem dividendos a accionistas capitalistas, os produtos e serviços serão sempre muito mais baratos que aqueles da concorrência.

Quem esteja preocupado com o levantar das consciências em relação ao capitalismo, as questões que aqui se colocam fazem isso mesmo, pois coloca o problema na dicotomia capital - trabalho.

Colocando o que aqui se propõe em pratica, cria-se uma concorrência entre sistemas dentro do mesmo país, uma concorrência entre tipos de empresas pela força de trabalho que fará com que os salários subam.

Álvaro Cunhal: sonho, utopia, projecto, acção

Que análise faço da actualidade?

O capital já não consegue extrair renda das actividades produtivas e por isso está a tentar invadir aquilo que são as funções do estado no esforço de continuar a obter uma renda. Mais, estou convencido que depois de começarem a obter rendas dos sistemas de pensão, escolas, universidades e saúde, dentro de algum tempo tentarão fazer o mesmo com o sistemas de segurança, tentando privatizar o exército, a polícia e a justiça. Acontece que não me parece que as esquerdas tenham bem claro o que está em curso. Porque se assim fosse, diriam isso claramente. Para a direita, o importante não é demonstrar se privado é melhor que público. É levantar a questão para que assim se aceite as privatizações. Além disso, com as privatizações, possibilita-se que quem normalmente usa os sistemas privados deixem de pagar também para o estado.
Como sair disto? Tem que ser claro que os privados não vão investir em actividades produtivas simplesmente porque sabem que não conseguem extrair uma renda destas actividades. Essa é a razão da necessidade da diminuição do preço do trabalho. É que senão acreditarem que ainda é possível de alguma forma voltar a obter uma renda das actividades produtivas realizadas cá dentro, sabem que acabarão por perecer. Por esta razão, na minha opinião, os capitalistas portugueses estão de facto desesperados. E por isso querem a aplicação do memorando o mais rapidamente possível. Por isso são submissos aos capitalistas de outras paragens. É que sabem que não têm na actualidade qualquer possibilidade de concorrer num mercado aberto. Ou seja, estamos a assistir a uma guerra entre capitalistas do centro da Europa e capitalistas da periferia. Os do centro exigem a destruição da capacidade produtiva da periferia para que dessa forma eles consigam substituir a capacidade produtiva destruída e continuem a obter uma renda. Os capitalistas da periferia (os de cá) aspiram que ao seja destruída o mais rapidamente possível a capacidade produtiva de cá, para que assim, com o preço do trabalho cada vez mais próximo do zero, consigam rapidamente usar essa mesma força de trabalho ao preço da uva mijona. O que estão a produzir é a simulação dos efeitos de uma guerra: destruição da capacidade produtiva dos beligerantes para que com os armistícios seja necessário voltar a investir na produção pois os produtos e serviços serão uma necessidade de todos os que por cá ainda estiverem. Só que como não estamos em guerra, aqueles que estão neste mesmo mercado europeu satisfazem rapidamente as nossas necessidades. Mas mesmo assim, é a única possibilidade que os capitalistas de cá têm para usar a força de trabalho das pessoas deste país. Por isso, insistem que seja rápido, muito rápido, e por isso não querem qualquer qualquer renegociação ou coisa parecida.
Neste sentido (não sei se será esta a razão), estou cada vez mais de acordo com o PCP ao insistir numa política patriótica e de esquerda. Há partida, patriótica tem uma conotação de direita, pois o sistema capitalista não é alterado, é simplesmente uma forma de manter os capitalistas de cá a explorar o trabalho de cá. Mas na actualidade, sem isso não há solução para a sustentabilidade do país.
O PS (e até o bloco) põe todos os ovos na Europa, pois considera que sem o apoio externo, sem o apoio do resto da UE, não temos enquanto país qualquer possibilidade de viabilidade. Penso que mais tarde ou mais cedo terá que ser colocado em cima da mesa a necessidade de o estado entrar nas actividades produtivas, pois nenhum privado o vai fazer. Ora no quadro da UE e do euro, isso é uma impossibilidade. E isto é um problema. Por isso, parece-me que a posição do PCP consegue ser mais assertiva. Honestamente não sei se a "necessidade de uma política patriótica de esquerda" que o PCP preconiza tem ou não a ver com aquilo que acabei de dizer. Mas pelo menos parece-me ser a mais próxima disso. Penso que já é hora de os trabalhadores que vivem neste pedaço de terra passarem a tomar conta do seu destino, e em vez de continuar à espera que alguém lá fora os ajude, decidam tomar as rédeas das suas vidas fazendo aquilo que para eles for o melhor. Isso implica deixar de ficar à espera que apareça um novo salvador personificado numa pessoa com muito dinheiro que só quer explorar o seu trabalho.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

expext...


Tomatada


Desobediência

Quando o actual governo

  • rouba o 13º e o 14º mês aos reformados e à função pública;
  • rouba mais de um salário aos trabalhadores do privado;
  • destrói o SNS;
  • destrói a escola pública e a universidade pública;
  • promove o desemprego;
  • promove a redução da remuneração do trabalho ou
  • promove a fome e a miséria,
viola a Constituição da República Portuguesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, torna-se num criminoso em actividade.

Recorde-se que, tanto a Constituição da República Portuguesa como a Declaração Universal dos Direitos Humanos tornam a justiça explícita na forma de lei. É dessa forma que se mantém a paz entre os cidadãos já que aquilo que está acordado permite uma vida justa e digna para todos.

Este governo, ao submeter os mais débeis aos mais fortes, eliminou a justiça e deixou unicamente a lei. Como consequência, fez com que grande parte da população deixasse de ter lugar.

Por outras palavras, isto significa que o governo violou e viola a Constituição da República Portuguesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ou seja, o governo quebrou a paz social. Isto legitima a acção de todos os cidadãos que agora têm o dever de preservar a paz e o bem-estar proclamados nestes documentos.

Por estas razões, e ao abrigo do Artigo 21º da Constituição da República Portuguesa, o MSE, Movimento Sem Emprego, e aqueles que estão a ser vítimas das acções criminosas deste governo reservam para si e para todos os cidadãos o direito à desobediência civil como forma de resistência dos que estão a ser atirados para a valeta por este governo.

Chega de esfolar os 99% mais pobres para que o 1% mais rico mantenha os seus privilégios.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

13 de Outubro: Marcha Contra o Desemprego

Existia algum receio. Nas manifestações anteriores, sem excepção, fomos sempre mal tratados. Acusavam-nos de sermos divisionistas, que não devíamos existir, porque o MTD é que era o movimento dos desempregados, a mim, chegaram-me a empurrar, e a dizer que não era bem-vindo. Por isso, cautelosamente e ordeiramente, fomos ter à Praça da Figueira, esperámos que pelas últimas pessoas e colocámo-nos no fim. Os homens da CGTP que mantém a ordem, aceleraram o passo imediatamente e puseram-se à nossa frente, demarcando onde terminava a sua responsabilidade, onde terminava a manifestação. Ainda antes da Rua da Betesga, observei a um amigo da CGTP que reparasse bem o que tinha acontecido, pois que era o que sempre acontecia, que visse que não era mentira. Ele foi lá falar com alguém e algo completamente inesperado aconteceu: duas das pessoas da CGTP recuaram e ficaram atrás de nós... ficávamos no interior da manifestação. Foi a primeira vez que foi possível fazer algo em conjunto. Como se não bastasse... hoje fiquei atónito. Não é que o Resistir (http://resistir.info) está a promover a Concentração Cerco a S.Bento?
É caso para dizer que houve um movimento tectónico e poucos se aperceberam.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ainda não...

Algumas pessoas têm-me proposto coisas. Acontece que não consigo competir com jovens acabados de sair da universidade. Eles estão abaixo do salário mínimo e ainda por cima o nosso governo, que é amigo, ainda paga uma parte do salário para que com o tempo se acostumem a receber menos. Como é óbvio, em vez de valorizar o trabalho, o Governo faz o possível para que sejamos competitivos com a China e assim sermos sustentáveis. É excelente... se nos esquecermos que uma sociedade humana tem que ter crianças e com estes salários as crianças estão proibidas. Ou talvez não... talvez seja melhor largarem-se as crianças à bicharada para que aprendam a comer como os cães, que continuam a andar pelas ruas da cidade e por isso ainda há comida que sobra, e se virmos bem, uma criança ainda consegue ser mais competitiva do que um cão porque pelo menos tem a vantagem competitiva que é ser mais inteligente. Só pode ser bom porque enquanto não encontrarmos cães mortos e escanzelados temos a garantia de que as crianças ainda estão vivas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

15 de Setenbro: o que vi, senti, pensei

Uma hora antes já lá havia muita gente: falando, distribuindo propaganda, marcando presença, fazendo cartazes. Vi o Bruno Dias e disse-lhe que estava muito contente por ele ter ido. A praça estava ser pequena e assim a manifestação arrancou 20 minutos antes do tempo. No Movimento Sem emprego estávamos um pouco às aranhas pois ainda não tinha chegado a faixa, não tínhamos megafones... mas tínhamos o mais importante: gente disposta a tudo. Onde nos colocamos? A resposta foi óbvia. Junto aos que connosco marcharam na manifestação por nós promovida a 30 de Junho: entre o 15-O, que ia à frente, e o MAS, que ia atrás.
Começámos a andar, mas a faixa não chegava. Dois quarteirões mais à frente, chega uma mochila que se abre rapidamente. Já tínhamos faixa. Mas não tínhamos megafones. Porra! Um movimento sem megafone não é movimento. Continue-se com o que temos e use-se o que temos. Inicialmente pensámos colocar-nos ao lado do 15-O, porque eles pelo menos tinham megafones. Mas entretanto, melhor damos visibilidade à nossa faixa, deixemos que os de frente se afastem um pouco: "Espera! Pára! Estica!". Por vezes, vale mais usar bem o pouco que se tem do que confiar nas ferramentas tradicionais. As pessoas começaram a filmar-nos e a tirar-nos fotografias. Vinham ter connosco para nos pedirem folhetos, que acabaram num instante. Começámos a ver que em vez de filmarem e fotografarem o 15-O e o MAS, procuravam-nos a nós. No Saldanha, na estátua, quem ia à frente, seguiu pela esquerda. Como pretendíamos ficar ao lado do 15-O, fomos pela direita... e vimos que não havia ninguém à nossa frente. Do nosso lado, tínhamos a Av. da República completamente vazia. Olhámos para trás... e vemos que o povo atrás de nós nos segue. Seguimos em frente, pois éramos, do nosso lado, o topo da manifestação. Assim seguimos até ao Campo Pequeno. Virámos e fomos para a Praça de Espanha. Fomos andando até podermos e parámos. Ouvimos o orador final a apelar a que se formassem grupos de pessoas a nível local para lutar contra a austeridade. Ficámos felizes porque no dia anterior tínhamos apelado a que se formassem comités locais. Tentámos pedir a palavra mas foi-nos dito que só os organizadores é que poderiam falar, porque assim tinham decidido os organizadores. Nada mais democrático! Terminaram os discursos, continuaram com música por alguns minutos, e a organização deu por terminada a sessão.
No que se tinha falado no Facebook e noutros meios, havia a sugestão de após a manifestação rumar ao Parlamento. O MAS, usando megafones, apelou que assim fosse e partiu... sem muita gente atrás. Alguém do Regueirão dos Anjos usou o cartaz da JSD "Todos temos que fazer a nossa parte" e o transformou em "Todos temos que fazer a nossa arte. Todos a S.Bento!!!". Demos uma volta para ouvir o que diziam as pessoas. E deu-se um momento mágico, algo que, pessoalmente só tinha lido sobre revoluções em outras paragens. Ouvia-se o Povo dizer "Estamos aqui meio milhão e não fazemos nada com isto? Então e agora vamos para casa? Que estupidez, agora vamo-nos embora?". Verificava-se que a massa estava mais radicalizada que os organizadores, que os líderes. Rapidamente desfraldámos a nossa faixa e começámos a andar com palavras de ordem... e o Povo veio atrás de nós! Começámos a cantar Grândola e mais gente se nos juntou. Víamos os que estavam parados à nossa frente, em frente ao Corte Inglês, começar a andar e a cantar! Descendo a António Augusto Aguiar, ainda haviam carros a circular. Observa-se que quem vai nos carros toma uma de duas atitudes: ou buzina connosco as palavras de ordem com os punhos levantados, ou então fecham os vidros e estacionam. Curiosamente, os carros de alta cilindrada eram os mais cautelosos. Davam a sensação de estar com algum receio.
Mais abaixo, um polícia puxa um jovem sem razão aparente para dentro de um pátio. Dezenas de pessoas correm furiosas atrás do polícia que desapareceu. O jovem não sei que aconteceu com ele, se foi preso ou se continuou na manifestação.
Pouco antes da Fontes Pereira de Melo, onde vendem lamborghinis, o vidro foi estilhaçado.
A polícia ia fazendo o que podia para parar o transito. Devo dizer que ao contrário da manifestação entre o Saldanha e a Praça de Espanha, em que conhecíamos muitas das pessoas que iam à nossa frente e ao nosso lado, esta ao fim da tarde era feita a passos largos e rápidos. As pessoas que iam connosco eram outras. Gente com a terceira idade, homens de 50 anos, jovens que nunca tínhamos visto em nenhum lugar. E o que mais chamava a atenção era a pressa que tinham em chegar a S.Bento. Espontaneamente, saiam palavras de ordem, que agora também se intensificavam contra o PS. Na Fundação Mário Soares, via-se as pessoas parar, como que hesitando se era para partir ou não. Aquilo chamou-me a atenção. Depois de por lá passar voltei atrás e percebi que não, que o sentimento não era só das pessoas que por lá tinham passado quando eu passei.
Em S.Bento, era notório que a polícia estava bastante comedida. Era visível que eram muito poucos. O Largo já estava cheio até à Calçada da Estrela e a Rua de São Bento estava cheia até perder de vista. Manifestantes começaram a pegar nas grades que estavam no início da escadaria. E os polícias em vez de começar à cacetada como era de esperar, simplesmente puxaram para si as grades e levaram-nas para cima. Alguém desenterrou um dos postes com um sinal de trânsito e foi contra os polícias que simplesmente pegaram no sinal e o levaram para cima. Pessoas começaram a mandar garrafas para os polícias e os polícias nada fizeram. Enquanto isso, os manifestantes apelavam insistentemente a que os polícias se pusessem do lado certo.
Não aconteceu nada. O Parlamento não foi invadido. Ou aconteceu tudo. O Povo sem dúvida mostrou-se mais radicalizado do que as lideranças. A julgar pelo ânimo dos manifestantes, o PS corre um sério risco de seguir o caminho do PASOK. Para isso, basta que continue a afirmar que as medidas de austeridade são necessárias, numa atitude pseudo-patriota e em vez de defender o Povo continue a defender o Capital.
Resumindo, ontem as coisas só não mudaram de rumo porque o Povo não quis. Viu-se que os partidos estão noutro comprimento de onda, completamente afastados dos sentimentos de quem está a ser trucidado, pois apesar de eu conhecer muita gente do PCP, do BE e do PS, andei à procura de notáveis e não encontrei ninguém. Será um sinal dos tempos?

domingo, 9 de setembro de 2012

Caro Pedro,

Se neste momento 99% de quem está empregado não tem dinheiro suficiente para manter o essencial para a sua vida, dos seus filhos e anciãos, como é que acha que retirando uma parte ainda maior para dar ao 1% e dessa forma contrair ainda mais a procura aumentando o desemprego?
Quando é que será que percebe que os privados não vão investir porque sabem que o risco é demasiado grande?
Quando será que percebe que terá que ser o Estado a fazer aquilo que os privados não querem ou não podem?
Quando será que percebe que está a incorrer num crime?
Quando será que percebe que aqueles que já não têm lugar na sociedade que o Pedro está a criar vão acabar por se zangar?

Sem uma réstia de medo,
Alcides Santos

sábado, 8 de setembro de 2012

Sejamos então responsáveis!

O que deve fazer um pai quando sabe que não vai encontrar trabalho que pague os gastos para manter a vida dos seus filhos? Se for responsável, tentar viver acima das suas possibilidades enquanto tal for possível e principalmente fazer tudo, mas absolutamente tudo o que estiver ao seu alcance para alterar a situação, mesmo que isso possa parecer à partida irrealizável.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A importância dos nomes no discurso político

O PS quando tinha que aplicar medidas de austeridade dava-lhes um nome: PEC I, PEC II... O PSD/CDS são mais inteligentes porque não atribuem nome, e assim dificultam o discurso, já que assim não nos podemos referir às medidas pelo seu nome.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A culpa é do governo ou da troika?

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2749501

.../...
«Não falaram uma vez sobre emprego e desemprego, política de rendimentos e salários e, confrontados com estes problemas, a única coisa que disseram era que não era um problema da troika, mas do programa do Governo», referiu Arménio Carlos.
.../...

Mas ele ainda não tinha percebido que o programa era do governo e não da troika? E por isso não faz sentido atacar a troika, porque é isso exactamente aquilo que o governo quer que todos nós façamos?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Duas estartégias diferentes

Duas estratégias diferentes:
1. O KKE está a apelar à greve geral (http://resistir.info/grecia/kke_29ago12.html) e não pactua com a direita
2. O Dimar (partido à esquerda do PASOK) está no governo e parece não ceder nas medidas contra os trabalhadores o que está a impedir um acordo no governo grego e poderá levar a que a troika dê uma avaliação negativa na semana que vem e cujas consequências todos poderão imaginar.
Qual a melhor opção? Tanto do ponto de vista das populações como da obtenção do poder? O futuro poderá responder a esta pergunta.

sábado, 25 de agosto de 2012

Se é uma boa ideia para a RTP...

Se é possível com uma concessão a privados garantir que se cumpre o serviço público, porque razão o governo não propõe que aquilo que faz seja concessionado a privados?

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Permission to engage

Bem-vindos à luta!


No cartaz faz-se referência a um site (http://mtd-lx.net/) que há data de hoje ainda está em construção.
As duas páginas do facebook, http://www.facebook.com/mtdesempregados.lisboa e http://www.facebook.com/trabalhadores.desempregados nasceram no dia 11 de Agosto. Parece que se está a criar o movimento para protagonizar a marcha que a CGTP marcou entre 5 e 13 de Outubro. Há dias (http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=2699552) houve referência a uma reunião da CGTP com o MTD.
Para quem está desempregado, a pergunta que se faz em relação a uma marcha de pessoas a partir de Braga e de Faro com destino a Lisboa, é a de sempre: como é que se paga uma coisa destas? Ora... cada pessoa tem que comer... pequeno almoço, almoço, jantar... poupando, como se vai estar a marchar (dá 40 km de marcha por dia), não vai haver tempo nem vontade para fazer comida, portanto, 15 euros por dia em comida, como são 9 dias, dá 135. Suponhamos que anda com mochila com saco-cama às costas, que se consegue pavilhões para dormir... a deslocação num dos sentidos custa uns 20 euros... dá uma módica quantia de 155 euros por pessoa. Um luxo que a larga maioria de desempregados não se pode dar.
De qualquer forma, bem-vindos à luta!

terça-feira, 31 de julho de 2012

O homem deve-se ter enganado

(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=584869)
Mas então a "concorrência entre dois serviços conduz a conflitos indesejáveis que se traduzem num sistema dispendioso, mal dimensionado e pouco racional"? Mas afinal a concorrência é má, dispendiosa e pouco racional?

domingo, 29 de julho de 2012

Se não somos ricos...

Há dias, estava o PPC numa escola a dizer que não somos ricos para manter escolas como aquela a onde ele estava naquele momento. E mais tarde, disse que por isso agora tínhamos que ter turmas de 30 alunos. Logo a seguir vê-se o PPc a subir para um carro de alta cilindrada e partir sabe-se lá para onde. Fiquei cá a pensar... se não somos ricos para dar um futuro aos jovens, se não somos ricos para dar um presente aos nossos idosos, se não somos ricos para ter uma saúde que nos permita ir vivendo, será que somos ricos para termos BMW, Mercedes, Audis, Lamborghinis, Ferraris?

sábado, 28 de julho de 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Panicar ao quadrado

Estou a panicar de tanto panicar.
O meu percurso universitário foi cheio de erros. Escolhi sem saber o que queria, mudei porque o curso exigia demais e tinha de trabalhar, mudei outra vez porque o dinheiro não chegou e tive de voltar para casa dos pais.
Sou da geração que não consegue sair de casa dos pais, a geração que, em vez de os deixar caminhar para o descanso, tirar umas feriazitas de educar e ver o pôr-do-sol, tem de viver à custa deles. Tem de pedir que pague pelos erros da filha que, inconsciente, aos 18 anos não sabia um diabo da vida. E, caramba, aos 22 continua sem saber. Tem de pedir aos pais que lhe paguem as propinas e que, além disso, suem mais um bocadinho entre call-centres, desemprego e precariedade para pagar a burrice do empréstimo que a filhota – que na altura prometia mundos e fundos, que foi das melhores médias do secundário, que queria ser bióloga e salvar as baleiazinhas e as florestas amazónicas – pediu, para não ter de trabalhar enquanto estudava.
A filhota, por se crer dona do seu nariz, e por ver o dinheiro a escassear, decide trabalhar para compensar. Sem dizer aos pais, claro, que tem de afirmar a sua independência económica. E siga, vamos lá meter o rabinho num call-centre e azucrinar o juízo a gente que não tem dinheiro para gastar. A escola vai por água abaixo, que a filhota não consegue lidar com tudo. Porque isto de haver idade para erros é coisa do século passado, hoje em dia já tem de se nascer com o destino traçado e não há lugar, nem direito, para enganos. Experiência de vida uma ova.
Vamos lá então mudar de curso, e desta vez já na direcção certa. 'Bora lá para um curso de Letras, que no fundo sempre tive queda para a coisa. E... Ora, caramba, vou ter de mudar de trabalho que estou prestes a rebentar os miolos de tantas vezes ser tratada mal ao telefone. Vamos lá para outro call-centre. Mas calma, este já é melhor que o outro. O melhor da cidade. Este já não é telemarketing, este é Apoio ao Cliente. Uiiii, cuidado! 8h, quando não são 9h ou 10h, a ouvir gente chateada com a empresa a descarregar, aos gritos, em cima de nós. Um ano a aturar isto, e começo mesmo a pensar que sou incompetente. Isto de ouvir destas coisas 5 ou 6 dias por semana... Começa a ecoar cá dentro. E claro, durante este tempo, ir às aulas. E tentar encaixar umas horas de sono no meio. Esgotada e sem previsão de melhorias... Desisto pela primeira vez. Corro para os braços dos papás que me recebem com mimos, cama, roupa lavada e comida na mesa. E um amor inesgotável.
Vamos lá, tentar mais uma vez, no fundo nasci em Lisboa, pode que a capital me dê alento e me mude as sortes. Ora, ainda experimento um outro call-centre, que ainda é melhor que o anterior. É que não quero desistir da minha independência assim sem mais. Vamos lá, 6h parece ser exequível. Eh lá, mas calma que aqui as coisas são diferentes. Aqui os objectivos ainda são mais inatingíveis, aqui a malta ainda bate pior da cabeça, aqui... Ai jesus, como se aguentam! E bom, vamos lá escorregar do precipício, que estive a cozinhar uma depressão durante um par de aninhos.
É que sabem, eu tenho os melhores pais do mundo. Sempre me disseram, a mim e ao meu irmão, que o nosso destino está nas nossas mãos. Que somos nós que fazemos as nossas vidas. Que se nos empenharmos, somos capazes de qualquer coisa. Que o mundo está aos nossos pés. Que estudar é muito porreiro, que aprender é bué de fixe, e que a universidade nos abre os horizontes. Ler muito, aprender muito. É, eu sei. São mesmo os melhores pais do mundo. Só que as bacoradas que os belos dos nossos governos fazem trocaram-lhes as voltas e ainda se riram na cara. Eles, os melhores pais do mundo, continuam a dar tudo pelos filhotes. Continuam a dar cabo da sanidade mental deles, para abrir caminho aos filhotes. Que os garotos merecem tudo. Mas... ora, troikices, FMIzices e botas elameadas de tanta vez que os nossos queridíssimos dirigentes políticos metem a pata na... O cenário sempre a ficar pior.
A filhota, que mudou pela 2.ª vez de curso e não está a trabalhar, acabou o ano lindamente. E experimentou a vida académica como deve ser: conheceu professores porreiros, outros que não deveriam dar aulas, estudou que se fartou e aprendeu imenso. Mas, principalmente, aprendeu que por mais que se estude e se seja merecedor... ou se tem um tacho muito grande, ou tem de se emigrar (ou se tem um cartão Relvas), como diz o Sr. PM. A filhota tem de pensar em começar a trabalhar novamente, quanto antes, se é que quer continuar a estudar. Que o subsídio do papá vai acabar não tarda, e depois… é melhor nem falar. Só que entre call-centres e supermercados, a filhota sabe que não vai conseguir estudar. E a filhota sabe que tem capacidades para muito mais. É fluente, nativa, em três línguas, que é bem mais que o nosso Sr. PM. Fala e escreve melhor português que o Sr. PM. Tem melhores ideais que o Sr. PM. Não tem mais experiência profissional que o Sr. PM, mas também não se quer formar em mentir descaradamente, por isso…
Emigrar os DIABOS! Os nossos pais lutaram, e lutam para nos dar o melhor. Vão buscar forças quem sabe onde. Retiram-lhes o sustento, vêm as hipóteses de emprego reduzidas quase a zero para si e para os seus filhos, vêm que sonhar começa a ser caro de mais. Mas mesmo assim lutam. E nós, LUTEMOS com eles! Lutar pelo nosso país, lutar por aquilo que é certo, por aquilo que vale. Não baixar os braços. Ganhar consciência política, ver que o mundo não se vê através de um iPhone. Que o grupo de amigos para a borga vai começar a escassear porque o dinheiro não chega. Que a única perspectiva de trabalho no futuro vai ser numa caixa de supermercado ou num restaurante. Ou num call-centre, claro. E pagar dívidas alheias que não acabam, porque irá sempre haver mais. E ver os nossos pais desolados porque roubaram o futuro dos seus filhos…
Há que perceber, rapaziada (e raparigada, não excluo ninguém), que não é altura para bens supérfluos. Há que mudar a direcção, há que procurar um futuro que não seja precário. Há que escorraçar quem nos enterrou, retirar a areia dos olhos, há que sair fora e respirar. Há que lutar. Aqui não se desiste. LUTEMOS!

De uma filha para uns pais

Pots, Pans and Other Solutions

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Desabafo

Uma esquerda procura que o poder algum dia lhe caia no colo, outra esquerda procura continuar a existir enquanto outra esquerda procura construir uma solução de entendimento que permita de alguma forma, no próximo ciclo eleitoral, aconteça uma mudança. Acontece que o actual governo tem actuado de forma qualitativamente diferente do que era habitual. A violação da constituição é diária. O que tem estado a deixar cada vez mais gente sem lugar na sociedade. As esquerdas estão impassíveis perante esta situação. Não basta afirmar que a miséria existe, que está a crescer a olhos vistos, é necessário não permitir que isso aconteça. E assim, tristemente, enquanto a direita atira parte da população para a valeta, as esquerdas, por miopia, por autismo ou por ignorância, deixam essas mesmas pessoas na valeta ficando à espera que desapareçam. Acontece que eu estou cada vez mais próximo dessa situação.

terça-feira, 17 de julho de 2012

É indiferente

http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=54579

Das duas uma: ou (1) o FMI é ingénuo e não conhece a realidade da Europa ou (2) o FMI é assumidamente trapaceiro porque conhecendo a realidade europeia faz esta afirmação. Independentemente de o FMI ser (1) ou (2), evidencia não ter capacidade para sugerir políticas a serem aplicadas por este governo.

Que se jodan!

sábado, 14 de julho de 2012

Nada a fazer: eles não querem...

Ontem fui a um evento público em que participavam dois deputados, um do PCP e outro do Bloco. O primeiro chegou e ficou à espera. Quando o segundo chegou, passou à frente do primeiro. Fizeram que não se viram. E isto verificou-se várias vezes. Sé durante o evento é que mostraram alguma civilidade. É lamentável... quem ainda acredita que eles querem chegar a algum tipo de entendimento, desengane-se. Se isso alguma vez acontecer será porque a isso foram obrigados pelas bases. E enquanto isso, Paulo Portas abre umas brechas na coligação com o PSD. Suponhamos que a coligação governamental não se aguenta e que por exemplo cai por altura do Orçamento Geral do Estado... Que solução se apresenta aos eleitores? É triste, mas esta nossa esquerda não quer nem união com o PS nem sem o PS. Não querem!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Flexibilidade laboral, custo da mão de obra... ou ausência de mercado?

Nos últimos 10 anos, invariavelmente, os governos de turno dedicaram-se a liberalizar o mercado de trabalho com o argumento de que dessa forma os empresários teriam mais possibilidade criar postos de trabalho. Na actualidade, a direita instalada no poder já perdeu o pudor e diz claramente que o preço da mão de obra tem de descer.

Acontece que há ano e maio atrás, quando fiquei desempregado, propus-me criar a minha própria empresa com a ideia de criar um único posto de trabalho: o meu. Falei com muitas pessoas da área onde moro e rapidamente percebi o que era óbvio: a criação de postos de trabalho (mesmo que seja o do próprio) só depende da existência ou não da procura dos bens e serviços que se produzem e não da flexibilidade laboral ou do preço da mão de obra, pois a minha flexibilidade era total.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mas afinal não estamos a aplicar as medidas todas?

Os sacrifícios são porque razão? Não diz o governo que estamos a aplicar as medidas todas? Basta ver o que diz Juncker aqui http://www.athensnews.gr/portal/11/56640.

Se é bom para os outros, também quero

Penso que o que saiu da última cimeira europeia abre caminho para que se exija as mesmas condições a Portugal que se deram agora à Espanha e à Itália, o que significa uma solução sem Troika para Portugal, sempre com objectivo de criação de emprego.
O que aqui digo é só uma transposição do que Tsipras diz em
http://www.athensnews.gr/portal/8/56647.
Desta forma deixar-se-ia a direita cada vez mais isolada tornando evidente que as políticas aplicadas no País são da responsabilidade do Governo e não de qualquer entidade estrangeira.
No entanto, esta exigência não significa que se esteja de acordo com as políticas que venham a ser aplicadas nesses países, significando simplesmente que isto permitiria ao País ter independência para decidir em que aplicar os seus recursos, decidir não privatizar qualquer empresa, decidir não alterar o mercado laboral, decidir não destruir o SNS, decidir não destruir cortar no 13º e no 14º mês...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Que inveja!

Hoje tive uma má notícia. Uma cunhada ficou desempregada. Mora em Maimi, EUA, e trabalhava na Wallmart. Mas a razão pela qual ficou desempregada é para nós (em Portugal) completamente desconcertante. Tinha por costume ficar na empresa mais tempo e ainda por cima, ao ficar na empresa a trabalhava, porque queria fazer o trabalho que estava pendente, não fazia a pausa para o lanche. E então foi despedida. A fiscalização lá é a sério e a multa por isto acontecer era muito elevada para a empresa.

A mim dá-me inveja não termos uma ACT que cumpra a Lei com o mesmo rigor com que o Governo promove os despedimentos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mais igual ou mais diferente?

A Espanha consegue uma linha de financiamento para os seus bancos, sem que tal implique medidas de austeridade.
A Irlanda diz que o seu problema também é bancário e por isso exige condições semelhantes às que Espanha obteve.
A Grécia não se manifesta.
Portugal considera que não é necessária qualquer alteração ao programa e nisso está cada vez mais parecido com a Grécia.

sábado, 9 de junho de 2012

Victor Constâncio sobre Oliveira e Costa

Victor Constâncio hoje disse-nos que Oliveira e Costa tinha um currículo excelente (director da supervisão do Banco de Portugal, Presidente do BNU, secretário de estado dos assuntos fiscais, vice-presidente do BEI) e que nada indicava o que veio a fazer. Sem o querer, mostrou que enquanto actuou como funcionário público terá tido uma excelente actuação e que o problema só se colocou quando foi para o BPN, que era privado. Ou seja, se não houvessem bancos privados ele nunca teria cometido os crimes que cometeu. Provavelmente o maior erro dele, terá sido deixar-se descobrir. Sem o querer, Victor Constâncio apresentou evidências de que se a banca fosse pública tal nunca teria acontecido.

Intervenção de Slavoj Zizek no comício da Syriza

Guerra ao fundo do túnel

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pergunta

Consideremos que dinheiro é trabalho em estado sólido, ou seja, ao ser capital acumulado, representa aquilo que sobrou depois de se pagar o trabalho realizado, materiais e serviços. Ora, o emissor de moeda pode imprimir mais moeda, aumentando assim o volume de capital existente, para dessa forma pagar a quem estiver desempregado para realizar mais trabalho que a sociedade considere necessário e correspondentes materiais e serviços. Acontece que caso não exista procura de moeda isso poderá fazer o valor de cada unidade monetária diminuir, criando assim inflação. No entanto, se o preço do trabalho, dos materiais e dos serviços aumentarem pelo menos na mesma proporção em que a inflação induzida, quem vende o seu trabalho, quem vende os materiais e quem vende os serviços não perde poder de compra. Acontece que a quem obteve lucros e não os reinvestir, com a inflação perde de facto valor. E poderá ser por esta razão que os banqueiros têm pavor à inflação e exigem que esta seja controlada.

Este meu raciocínio é correcto?

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Reacção a "A esquerda (IV)", de JVC


Relativo ao texto de João Vasconcelos Costa que se encontra em http://no-moleskine.blogspot.pt/2012/05/esquerda-iv.html

Gosto do teu esforço.

1. Onde conseguir dinheiro... A dicotomia entre austeridade e Kaynes tende a simplificar a forma de pensar. E serve para deixar intocável o problema clássico. Refiro-me à redistribuição da riqueza. Recordemos que Portugal é um dos países mais desiguais da OCDE. Uma alternativa sem tocar neste ponto poderá ser nominalmente de esquerda, mas não será por isso que será de facto de esquerda. O que quero dizer é que há uma alternativa com cunho marxista, que recusa a austeridade e recusa Keynes. Perguntarás: mas onde está o dinheiro? Pois, é que a colocação dessa questão revela que a ideologia neoliberal já está entranhada e não é questionada. Existe dinheiro em Portugal. Só que está mal distribuído. Até Hollande foi obrigado a tocar nesse ponto, quando propôs uma taxa marginal de sobre as grandes fortunas de 75% para valores acima de um milhão de euros. Isto não é novidade. Roosevelt com o desespero de que os comunistas e os socialistas alterassem a sociedade norteamericana de forma drástica conseguiu que as grandes fortunas fossem taxadas fortemente (ver http://en.wikipedia.org/wiki/Income_tax_in_the_United_States e procurar por "Partial History of Marginal Income Tax Rates Adjusted for Inflation") e tornou o estado como empregador de último recurso (http://en.wikipedia.org/wiki/Employer_of_last_resort e http://en.wikipedia.org/wiki/Civilian_Conservation_Corps). Outra medida será taxar de forma fortemente progressiva a propriedade. Dessa forma, mesmo que e Estado tenha que vender terrenos a estrangeiros ou a gente de posses cá da terra, pode sempre aplicar fortes impostos sobre a propriedade. E principalmente, se é por demais evidente que os privados não investem em actividades produtivas em bens transaccionáveis (agricultura, indústria, pescas, minas) seja porque não querem, não podem ou não sabem, para o caso é irrelevante, pois compreensivelmente têm medo de perder o investimento, é incompreensível que não esteja na agenda a possibilidade de o Estado ocupar o lugar deixado livre pelo sector privado. Mas em que actividades? Pois fácil: seleccionam-se todas as importações feitas pelo país, e organiza-se por ordem decrescente em função do produto. Excluindo as matérias primas que não detenhamos (como é o caso de petróleo), os bens transaccionáveis para serem produzidos necessitam de gente que os produza. E é nisso que os mais de 20% de desempregados reais (Ver o cabeçalho de http://www.movimentosememprego.info em que clicando nos números se obtém uma justificação para estes) devem ser empregues. E mais... quem tiver medo das grandes corporações nacionalizadas, proponho que as empresas formadas sejam privadas, mas auto-geridas pelos seus próprios trabalhadores. Desta forma haverão duas certezas: (1) se são os trabalhadores a decidir o que fazer com os lucros estes nunca irão para meia dúzia de pessoas o que faz com que a riqueza gerada se distribua por todos os trabalhadores e (2) uma empresa gerida pelos próprios trabalhadores nunca deslocalizará a sua produção porque nenhum irá aceitar ficar desempregado. O que proponho é que o dinheiro que se obtém taxando aos mais ricos seja dado a fundo perdido para as empresas poderem arrancar. Desta forma, não se terá que pagar juros sobre o capital emprestado e dessa forma, os produtos serão mais baratos não por via da contracção no Trabalho e pelo contrario por contracção do Capital. Como digo, não entendo como é que isto não é debatido abertamente. Será talvez porque os que o poderiam fazer saberem que estas políticas implicariam que eles mesmos perderiam alguma da sua vantagem competitiva em relação aos seus concidadãos. Não estou a pedir mais saúde, não estou a pedir mais escola, não estou a pedir mais protecção no desemprego. Estou a exigir que cada um seja produtivo e que por isso seja taxado e com o dinheiro recaudado se gaste então na saúde, nas escolas e todos os serviços do welfare state.

2. Afirmas que "toda a experiência de intervenções do FMI é negativa". Pois vou-te escandalizar. A Islândia é o contra-exemplo do que afirmas. Mas há uma diferença fundamental. Sendo a Islândia um estado com forte presença do estado, com uma regulação muito forte do mercado de trabalho, com uma forte protecção social, à boa maneira do welfare state do berço à cova, o Memorando de Entendimento entre o FMI e a Islândia (http://www.imf.org/external/np/loi/2008/isl/111508.pdf) não tem uma única linha sobre venda de empresas estatais, não tem uma única linha sobre o desregulamento do mercado de trabalho, não tem uma única linha sobre cortes na protecção no desemprego, não tem uma única linha sobre a privatização do sector da saúde, das escolas, das universidades, das águas, das energias... Cabe perguntar porque será? Uns poderão dizer que o FMI é racista e trata os nórdicos como cidadãos de primeira e os restantes como escravos. Outros poderão dizer que o governante que negociou era uma boa pessoa e não cedeu a outros interesses. Outros poderão dizer que foi assim porque o governante sabia que o Povo não iria aceitar de outra forma. O que a mim me parece é que o FMI se comporta como qualquer instituição financeira, em que quer que o dinheiro emprestado volte a casa com um lucro e que para isso se negoceiam umas métricas que devem ser cumpridas como garantia de que tudo está a decorrer como previsto. O governante que negoceia em nome do estado sente que é aquele o momento para alterar a sociedade conforme aquilo que ele crê e por isso coloca lá essas métricas: umas tantas empresas a serem vendidas, uns tantos cortes nos salários, uma certa diminuição do factor trabalho... porque simplesmente não considera correcto que seja o Estado a resolver o problema e que pelo contrário este é um empecilho. Mas estes pressupostos são ideológicos. São por demais conhecidos exemplos de países que estão há décadas com programas do FMI (veja-se aqui o exemplo do Níger http://auditoriacidada.info/article/gr%C3%A9cia-passa-bem-sem-%C2%ABsimpatia%C2%BB-demonstrada-pelo-fmi-ao-n%C3%ADger). O que estou a afirmar é consistente com as afirmações de Lagarde, quando há umas semanas afirmou que mesmo que a Grécia saísse do euro o FMI continuaria a ser um parceiro. E segundo os acordos estabelecidos entre cada país e o FMI, é exactamente isso que tem que acontecer (basta consultar o site do FMI).

Este texto é escrito de um só fôlego, sem uma segunda leitura e por isso terá certamente erros.

Abraço,
Alcides

terça-feira, 15 de maio de 2012

Учиться, учиться и еще раз учиться

O que está a acontecer na Grécia faz-me pensar. Observa-se o PKK a isolar-se cada vez mais. E observa-se o Syriza cada vez mais forte (nas sondagens de hoje, a tendencia de subida mantém-se). Poderá significar que pelo menos nas condições específicas gregas a estratégia delineada pelo Syriza é a mais apropriada. Esta estratégia consistiu em considerar o PASOK e a ND como parte do problema e por isso indistintos. Se para melhorar as condições do povo a melhor forma é chegar ao poder, parece verificar-se que a estratégia do Syriza é correcta. Ainda hoje as sondagens na Grécia vêm confirmar (http://www.fimes.gr/2012/05/ekloges-2012-dimoskopisi-rass-2/) o Syriza como força que dadas as regras eleitorais gregas lhe garantiria mais de 130 deputados e assim bastaria uma coligação com outra força política para chefiar um governo. Deixando de lado a transposição para Portugal, em que se verificaria que encostar o PS ao PSD seria a melhor forma de procurar um governo mais à esquerda para Portugal, não deixa nos obrigar a questionar de a estratégia de aproximação ao PS. Se por um lado na França se verifica que a estratégia de diálogo com o PS se verifica correcta, pois consegue-se um governo de centro-esquerda, no caso grego, tal não parece ser verdade. Não aceitando as ideias catastróficas que a direita por cá nos quer fazer acreditar, em que a alternativa ao memorando é o inferno, obriga-nos a questionar se as condições concretas de Portugal nos aproximam enquanto país mais à Grécia ou à França. Será que quem pensa como eu (que considera que estender a mão ao PS é a melhor forma de obter um governo o melhor possível na actualidade portuguesa) não está a passar ao lado da História?
Por isso, como disse Lenin,Учиться, учиться и еще раз учиться (Aprender, aprender, e de novo aprender!).

sábado, 12 de maio de 2012

PPC e o desemprego

PPC mostra-se feliz por dar à população portuguesa uma oportunidade para mudar de vida.
Passamos a ter livre escolha para passar fome.
Uma oportunidade para conseguir um trabalho precário.
Uma possibilidade para conseguir um salário cuja remuneração passe a ser menos de metade.
Uma esperança para passar a dormir na rua por não se poder pagar a renda da casa ou o empréstimo contraído.
A alegria que se sente em não conseguir dar o essencial aos filhos.
O júbilo por não poder apoiar nem visitar os pais que moram sozinhos.
O contentamento por não poder pagar os transportes para procurar trabalho, ver a sua família, estar com amigos ou simplesmente participar numa qualquer actividade da sociedade.
O entusiasmo por ouvir o amado líder do país garantir que ainda vai ficar tudo pior.
O agrado por ver confirmado que graças à fé em que é necessário empobrecer se facilita o despedimento.
O regozijo por ver que somos cada vez mais aqueles que estão desesperados.
A possibilidade de acabar com o sofrimento devido à fúria dos miseráveis.
A oportunidade para obrigar os que nos colocaram nesta situação e os que a mantêm a perder tudo e usar essa riqueza para que todos possamos trabalhar.
Obrigado, PPC.

Domingos Ferreira: O império do mal

domingo, 6 de maio de 2012

The Hunger Games - Os Jogos da Fome

No futuro, após uma grande fome, há um país que se divide em 12 distritos. Todos os anos são escolhidos dois jovens de cada distrito para lutar entre si até que só um sobreviva. Isto seria uma forma de recordar a fome que todos tinham passado. À medida que o filme se vai desenvolvendo, percebe-se que estamos perante uma sociedade feudal, em que os habitantes de cada distrito não podem abandonar a terra onde vivem, têm condições de vida miseráveis e têm que trabalhar sempre. Há guardas armados que mantém permanentemente a ordem. Não se identifica qualquer igreja, mas há um grande ecrã de televisão que interpreta a realidade. Quem assiste o filme sente uma repulsa por os protagonistas não se rebelarem contra o sistema em que vivem já que em nenhum momento ele é questionado. Sendo um filme norte-americano, espera-se a todo o momento o desenvolver do clássico happy ending. E ele aparece. Mas não com a esperada queda do sistema. O casal sobrevivente aprende a cumprir com o seu papel para as câmaras de televisão e regressa ao seu distrito.
Numa primeira leitura, o filme parece incentivar a passividade, a aceitação da vida que nos tocou, de aceitar que a maioria da população será sacrificada e que o melhor que cada um tem a fazer é ser esperto e aproveitar-se das situações e tentar sobreviver à custa dos outros. Numa segunda leitura, poderá fazer-nos questionar se não estaremos na mesma situação que os personagens do filme: se em vez de individualmente procurar sobreviver não deveríamos antes questionar o sistema em que vivemos e lutar contra ele. Numa terceira leitura, apercebemo-nos que tudo aquilo que observamos e sentimos é simultaneamente bom e mau, e que nos cabe a nós, em conjunto, escolher o que fazer com a nossa vida.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A ferramenta errada

Rebentou. Foi-se a correr ajudar porque eram demasiado grandes para cair. Decidiram que tínhamos que reactivar a economia. Mas em vez de cobrar impostos a quem lhe sobrava, contraíram mais empréstimos. Veio a Troika, e começaram os cortes, aproveitaram para mudar drasticamente a sociedade, coisa que sempre tinham querido fazer. E dizem-nos agora que temos todos que empobrecer. Não quem criou o esquema da D.Branca, mas todos.

Parece aquele gajo que estava permanentemente com o martelo a bater com toda a força no dedo grande do pé. Como aquilo lhe estava a doer e a esvair-se em sangue, com os ossos partidos, achou que devia fazer alguma coisa. Então, em vez de deixar de se aleijar e largar o martelo, pegou no serrote e cortou o pé.

sábado, 14 de abril de 2012

Manifesto Comunista

Yanis Varoufakis: The Future of Europe 5/6

Recordando Pessoa

"Os ladrões já não andam na estrada,
Moram na pele dos ministros."

PESSOA, Fernando, Poesia Mágica, Profética e Espiritual, Edições Manuel Lencastre, Lisboa, 1989.
A visão bandárrica e profética, N.º 6, p.21

Na antimatéria

Há uns físicos que afirmam que existe neste Universo matéria perdida. Que há vastas quantidades de matéria por descobrir. Até lhe deram nome: antimatéria. Por aquelas bandas, as coisas funcionariam ao contrário. Por exemplo, enquanto por cá os electrões são negativos, por lá seriam positivos. Há outros teóricos que afirmam que haverá nalguma parte do Universo algo em tudo igual ao vemos, mas ao contrário. Imaginemos então esse Portugal em que as coisas funcionam ao contrário...
A crise está instalada. Gastámos demais, afirma a mainstream. E agora todos temos que pagar os abusos que fizemos. Pessoalmente, custa-me engolir e por isso faço questão de recordar como tudo se passou.
Nos últimos trinta anos, o poder tem alternado basicamente entre três partidos: o PCP, o BE e Os Verdes. Todos eles disputaram entre si quais as melhores condições a dar aos trabalhadores, e fazer com que o grosso dos custos do estado e da sociedade fossem pagos pelos capitalistas, que era afinal o que se passava no resto da Europa e EUA. No seu esforço de sobrecarregar os capitalistas (recordemos são eles quem colocam o dinheiro, são eles que com o seu esforço e dedicação fazem a sociedade ir progredindo) e distribuir os lucros pelos trabalhadores, em determinadas situações as coisas correram menos bem para quem está no governo e então foi o outro partido para o poder. O facto, é que nos últimos anos, a automatização tem feito com que cada trabalhador gaste menos tempo a trabalhar e tudo à custa dos lucros dos capitalistas. Os trabalhadores, aproveitando tanta facilidade e tanto tempo livre, passaram a gastar muito dinheiro em grandes casas, em autênticas mansões, em viagens, em grandes obras públicas, em grandes universidades e escolas... sendo que tudo era pago à custa dos capitalistas. Para convencer os capitalistas de que tudo estava bem, os governantes e os opinion makers apregoavam que os capitalistas podiam pedir emprestado para conseguir pagar os impostos que abusivamente lhes estavam a ser cobrados, porque a economia no futuro estaria melhor e por isso conseguiram pagar as dívidas, tal como o evidenciavam todos os estudos universitários. De tal forma, que os lucros e dividendos só eram pagos graças ao crédito que os capitalistas obtinham na banca. A banca obtinha o dinheiro que emprestava aos capitalistas graças às poupanças que os trabalhadores iam fazendo. Era de facto imoral: os trabalhadores obtinham cada vez mais poupanças livres de impostos, colocavam nos bancos e ainda por cima obtinham juros. E era precisamente por não ter que pagar impostos que obtinham poupanças que por sua vez iam ser emprestadas aos capitalistas para que estes conseguissem de alguma forma pagar impostos e continuar a manter as empresas a produzir.
Como era de esperar, o esquema Ponzi rebentou. Obviamente, o poder instalado foi defender as poupanças dos trabalhadores: se assim não fosse, era quase certo que o mundo como o conhecíamos acabaria, pois estalariam tumultos e revoltas porque os trabalhadores não iriam aceitar perder as suas poupanças. E por isso, começou a dizer-se que todos tínhamos gasto demasiado, que todos tínhamos vivido acima das nossas possibilidades... só que, como é óbvio, quem tinha que pagar a crise eram os de sempre: os sacrificados capitalistas. O governo lá ia dizendo que lamentava, que era uma emergência, e ia assim cortando
gradualmente o que ainda permitia aos capitalistas manter uma vida decente, e aproveitava para inclinar a lei ainda mais a favor dos trabalhadores. Dizia-se mesmo que os capitalistas podiam emigrar, que eram vivamente aconselhados a isso, pois isso enriqueceria o seu currículo e quando a crise acabasse eles estariam em melhor posição para voltar a obter alguns parcos lucros. Mas era dramático: começavam-se a ver sinais de extrema pobreza entre os capitalistas, inclusivamente, os suicídios estavam a aumentar.
Pessoalmente, sendo capitalista, esta situação revolta-me. E recordo-me que há uns físicos que afirmam que que há algures no Universo um local onde o mundo é ao contrário... Vejamos como as coisas se passarão nesse outro Portugal: Os capitalistas abusaram da exploração de quem trabalha e levaram o mundo há perdição. E obviamente, quem paga as favas são os trabalhadores e reformados...

Isto serve para mostrar que há sempre outras políticas que podem ser aplicadas, e que as que são escolhidas são sempre a favor da classe que está no poder.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Morrer de pé na Praça Syntagma

MORRER DE PÉ NA PRAÇA SYNTAGMA

Quando se ouviu um tiro na Praça Syntagma,
logo houve quem dissesse: “É a polícia que ataca !”.
Mas não, Dimitris Christoulas trazia consigo a arma,
a carta de despedida, a dor sem nome, a bravura,
e vinha só, sem medo, ele que já vivera os tempos
de silêncio e chumbo do terror dos coronéis.
Mas nessa altura era jovem e tinha esperança.
Agora tudo isso findara, mas não a dignidade,
que essa, por não ter preço, não se rende nem desiste.

Dimitris Christoulas podia ser apenas um pai cansado,
um avô sem alento para sorrir, um irmão mais velho,
um vizinho tão cansado de sofrer. Mas era muito mais
do que isso. Era a personagem que faltava
a esta tragédia grega que nem Sófocles ou Édipo
se lembraram de escrever, por ser muito mais próxima
da vida do que da imaginação de quem efabula.
Ouviu-se o tiro, seco e certeiro, e tudo terminou ali
para começar logo no instante seguinte sob a forma
de revolta que não encontra nas bocas
as palavras certas para conquistar a rua.
Quando assim acontece, o silêncio derruba muralhas.
Aos jovens, que podiam ser seus filhos e netos,
o mártir da Praça Syntagma pediu apenas
para não se renderem, para não se limitarem
a ser unidades estatísticas na humilhação de uma pátria. Não lhes
pediu para imitarem o seu gesto,
mas sim que evitassem a sua trágica repetição.
E eles ouviram-no e choraram por ele, e com ele,
sabendo-o já a salvo da humilhação
de deambular pelas lixeiras para não morrer de fome.

Até os deuses, na sua olímpica distância,
se perfilaram de assombro ante a coragem deste gesto.
Até os deuses sentiram desprezo, maior do que é costume, pela
ignomínia de quem se vende
para tornar ainda maior a riqueza de quem manda.
A Dimitris bastou um só disparo, limpo e breve,
para resumir a fogo toda a razão que lhe ia na alma. Estava livre.
Tornara-se herói de tragédia
enquanto a Primavera namorava a bela Atenas,
deusa tantas vezes idolatrada e venerada.
Assim se despedia um homem de bem,
com a coragem moral de quem o destino não vence.

Quando o tiro ecoou na praça de todas as revoltas,
Dimitris Christoulas deixou voar uma pomba,
uma borboleta, uma gaivota triste do Pireu
e disse, com um aceno: “Eu continuo aqui,
de pé firme, porque nada tem a força de um homem
quando chega a hora de mostrar que tem razão”.
Depois vieram nuvens, flores e lágrimas,
súplicas, gritos e preces, e o mártir da Syntagma,
tão terreno e finito como qualquer homem com fome,
ergueu-se nos ares e abraçou a multidão com ternura.

José Jorge Letria
6 de Abril de 2012

terça-feira, 10 de abril de 2012

MAC

Recordando o livro "A Doutrina do Choque", de Naomi Klein, para se conseguir dobrar a população, é mais eficaz alterar coisas que eram tidas como imutáveis: os feriados, o Carnaval, férias, indemnizações por despedimento e agora o abate da Maternidade Alfredo da Costa. Segundo o Ministro, a decisão é política. E acredito que sim. Destruir o edifício que me viu nascer e à minha filha deixa um sentimento difícil de descrever. Será que é mesmo mais barato? Mesmo que seja a maternidade mais capaz no País, faz-nos questionar muita coisa. Deixa-nos confusos, sem reacção, e enquanto estivermos a tentar interpretar os nossos sentimentos, a revolução segue de forma ordeira e serena.

Ida ao Centro de Emprego

Hoje compareci a uma reunião no Centro de Emprego.

A funcionária foi muito simpática. Disse que a partir de agora as pessoas com mais de 45 anos iam ter a possibilidade de assistir a uma formação com a duração de cerca de 2 meses. As cadeiras seriam coisas fundamentais como marketing, organização empresarial, TIC, línguas e uma ou outra coisa mais específica, sendo que o nível de profundidade seria de acordo com as habilitações literárias de cada um. Curiosamente, a razão pela qual esta formação ia ser dada, segundo o afirmado, seria para que as pessoas desempregadas tivessem algo para fazer. Em vez de estar em casa a desesperar, desta forma poderiam passar o tempo. O que se pretendia era que as pessoas desempregadas tivessem actividade. Afirmou-se que era boa ideia participar em acções de voluntariado. A assistência portou-se à altura e agradeceu entusiasmada esta magnanimidade do Estado em ajudar-nos a estar entretidos. Sobre oportunidades de trabalho... nada. Afinal, interpreto eu, não compete ao Estado conseguir trabalho aos seus cidadãos. A função do Estado também não é a preparação de novas competências que facilitem a integração no mercado de trabalho. Para quê... como trabalho não há nem vai haver, o Estado deve preocupar-se antes em ter as pessoas entretidas. Pensando bem, se houvesse dinheiro mandavam-nos certamente ao Walt Disney Paris... como não há, temos que ter paciência e contentar-nos com umas formaçõezitas. Podemos estar descansados, que ninguém chumba. É garantido.

Enquanto esperava por um comprovativo da minha presença em tão estimulante evento, comentei com a funcionária que me parecia que o que se pretendia era que os desempregados não perdessem a cabeça, que não ficassem muito zangados. Afinal, um dos assistentes até se tinha levantado zangado e saído sem assistir ao espectáculo até ao fim. A funcionária, muito paciente, mostrou compreensão. Ela, ao ver a minha história laboral e académica, mostrou muito interesse por mim. Não resisti e comentei-lhe que mesmo que a minha média de entrada na universidade fosse superior a 18,5 não estava a concluir os meus estudos porque o dinheiro não esticava e em família tínhamos decidido que como o dinheiro só dava para um, seria a nossa filha a continuar a estudar. A funcionária mostrou compreensão e disse: "Pois, temos que fazer escolhas!", ela também tinha 3 filhas e não tinha podido dar tudo o que queria a todas... Eu desatei a rir. Disse que não era uma questão de escolhas... era uma questão de sacrifício e ver onde cortar teria menos impacto no futuro, que para uns era uma questão de escolhas porque estavam a decidir o que fazer com o que sobrava depois de se ter tudo o necessário enquanto para outros era uma questão de cortar em si mesmo (a conclusão dos estudos universitários num de dois cursos superiores enquanto se está em casa desempregado) para que os filhos tentassem seguir em frente. Também lhe perguntei  por que razão o Estado não entra em actividades produtivas de substituição de importações com o milhão e duzentos mil desempregados que existem neste país. Não soube responder. Em abono da verdade, até lembrou o abate de barcos de pesca que tinha assistido há uns anos.

O importante é que fiquei a saber que vou estar ocupado dois meses e que até me vão pagar o passe e o almoço. Que chatice...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Aprendizes de feitiçaria 2

Seguindo o raciocínio mágico, o Carlos Moedinhas afirma que a reposição dos subsídios de férias e de natal, vulgo 13º e 14º mês, "não podem ser permanentes" e que os cortes "estarão em vigor durante o período de vigência" do programa de ajustamento.
Acontece que nem ele acreditará que o actual programa de empobrecimento dará o resultado esperado porque, exceptuando a troika, o governo não vai conseguir convencer nenhum ser celestial a emprestar-lhe dinheiro e portanto a seguir a este programa vai-nos ser apresentado outro programinha fresquinho.
Isto fará com que gradualmente vá acabando com toda a lógica de justiça social ainda existente no nosso país. Ainda ouviremos falar no fim das férias pagas. As pessoas que ainda tiverem trabalho passarão a trabalhar sem período de férias ou se se mantiverem não serão pagas.
Conjugando isto com o aumento do tempo de trabalho diário, a diferença entre escravatura e aquilo que se está a tornar o mundo laboral será que os escravos não eram formalmente donos do seu corpo e que a vontade dos assalariados é subjugada à necessidade de pagar dívidas contraídas por o salário recebido não chegar para continuar a apresentar-se no local de trabalho.
A rã se for mergulhada em água a ferver salta e salva-se mas se for mergulhada em água à temperatura ambiente à qual se aumenta lentamente a temperatura acaba por morrer cozinhada. Nós estamos a ser ser sujeitos ao mesmo: se a sociedade mudar de um momento para o outro ninguém aceita, mas se as mudanças forem infinitesimais, aceitamos. Estão-nos a aquecer a água. A letargia faz-se sentir. Confundem-nos dizendo uma coisa e fazendo outra. Quando acordarmos a sociedade terá mudado, perdendo-se décadas de lutas por condições de vida dignas.
Quando nos trazem troikas e afins o real objectivo de toda esta gente é a mudança da sociedade, é gradualmente ficar com uma maior parte do fruto do trabalho da sociedade. Mesmo que nos emprestem mais, as dívidas serão cada vez maiores. Enquanto para nós o dinheiro é algo que se obtém trabalhando e se gasta todo imediatamente na manutenção da vida, para os seres divinos o dinheiro já existe e serve para comprar o nosso trabalho que é usado na produção de mais dinheiro. No fim de cada ciclo, nós estamos na mesma, nada nos sobrou a não ser a vida, enquanto que para os seres divinos, no fim da cada ciclo, vêm-se com mais dinheiro que nós lhes demos com o nosso trabalho.
Mas ainda há quem duvide que a luta de classes é a realidade desta sociedade?

Aprendizes de feitiçaria

Ora aqui está um tipo que acredita na magia da austeridade: os energúmenos dos trabalhadores são estúpidos e preguiçosos porque preferem o curto prazo da boa vida de não ter que trabalhar mesmo que dessa forma não consigam comer o suficiente.
O que me chateia é que esta besta do Peter Weiss, responsável da Direcção-Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros (ECFIN), enquanto aprende como funciona a feitiçaria, nos esteja a levar à perdição.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Como eu vi

Pouca gente. Como já era pouca, para ainda serem menos separaram-se. Os sindicatos preparam-se para partir e a plataforma do 15O fica quieta. Tinha sido decidido que iria ser assim. Mas... os P! e afins, que integram o 15O foram com os sindicatos.
A chegar ao Camões, vejo as pessoas atrás de mim a correr. Uns dizem filmem, filmem... enquanto outros fogem. A minha curiosidade faz-me acercar e ver o que se passa. O que aconteceu antes não sei, porque não vi. Aquilo que vi foi uns manifestantes a atirar garrafas, cadeiras, mesas para os polícias de choque, que por acaso gostaria de saber o que estavam a fazer ali, pois estava tudo muito ordeiro, sem qualquer sinal de violência. As Forças da Desordem cansaram-se (ou talvez não) de levar com objectos e atacaram. Tomaram conta do perímetro da forma que bem conhecemos: rebentam com tudo o que encontraram, cadeiras, mesas, pessoas, não importa, bastonada a torto e direito. Tomam conta do perímetro e impedem o trânsito de carros e pessoas. Passado um pouco, acalmam-se os ânimos. Curiosamente, vejo dois indivíduos com porte atlético, cabelo rapado, um com tatuagens, todos contentes. Não sei de onde vieram. O que sei é o que os ouvi dizer: o trabalho já está feito. Visivelmente, estavam sem saber para onde ir. Decidi segui-los. Como era de esperar foram para a Assembleia da República. Chegados lá, separaram-se, cada um para seu lado.
Fui à minha vida, pois tinha gente em casa à espera. Mesmo assim, ainda soube que os P! e os sindicatos se envolveram em actos violentos.
Isto de mostrar que quem manda somos nós é terrível. Começo a pensar se não haverá demasiada testosterona junta. Enquanto não colocarmos as marcas de macho alfa de lado, quem agradece são os senhores efeminados, doces e submissos que nos governam.